São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Vida nos seminários volta a atrair jovens

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Afonso Simon, 21, gosta de filmes de ação, de MPB e futebol. Tudo igual a qualquer garoto de sua idade. Isso se ele não tivesse feito uma opção que até há pouco tempo poderia parecer radical: ser padre.
A religião está na ordem do dia. Já virou até plataforma eleitoral. O tema é a maior polêmica na campanha para o 2º turno ao governo de São Paulo.
Religião também é best seller: deve ser lançado hoje no Brasil, o livro do papa João Paulo 2º, ``Cruzando o Limiar da Esperança". A tiragem será de 20 milhões de exemplares, em 30 países.
Os teens estão nessa. Afonso é um exemplo de uma tendência que cresceu muito na última década: o número de jovens que estudam para ser padres missionários ou frades (noviços) cresceu 926% de 1980 a 1990.
Só para se ter uma idéia, de 80 a 91, a população brasileira aumentou 24%.
Segundo o Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (Ceris), ligado à Igreja Católica, em 1980, havia 64 noviços em todo o país. Em 90, o número pulou para 657.
O número de seminaristas diocesanos (estudam para ser padres de paróquias) também cresceu -89%, ainda segundo o Ceris. Há dez anos havia 1.642. Em 1990, eram 3.147.
Os garotos que procuram o seminário chegam lá por vários motivos. No caso de Afonso, ele conta que a escolha foi natural.
``Eu me interessei pela vida dos padres diocesanos quando vi que eles tinham uma participação social", diz. Antes de entrar no seminário, ele trabalhava em uma fábrica de móveis.
Segundo o padre Manoel de Godoy, coordenador da Pastoral Vocacional da CNBB, Afonso se encaixa no perfil dos novos noviços e seminaristas.
``São pessoas que vem da classe operária, onde a Igreja tem muita penetração. Geralmente são do Sul ou de Minas Gerais, onde a tradição religiosa é forte."
Segundo Godoy, essa decisão aparece mais durante crises econômicas. ``Isso explica por que a procura aumentou tanto na década de 80. Foram dez anos de crise."
Ele explica que é difícil identificar se o jovem procura o seminário por falta de emprego e de perspectivas ou por ter uma vocação religiosa verdadeira.
No seminário de Afonso moram mais 15 garotos: todos vieram de Minas ou da região sul.
Evandro Guindani, 19, veio para São Paulo junto com Afonso. Ele já morou em um seminário aos 15 anos, em Santa Catarina, onde fez o segundo grau.
Ele conta que resolveu ser sacerdote quando sua mãe ficou doente e teve assistência de padres missionários que estavam em sua cidade, Chapecó (oeste de SC).
A história de Alcebíades Neto, 22, é diferente. Ele resolveu ser padre há um ano. O garoto morava em Vieiras (MG), onde fazia o 2º grau. Ele conta que estava ``sem saber o que fazer da vida".
``Um primo meu que é padre disse que era para eu tentar". Tentou, mas ainda não se decidiu. ``Não sei se vou conseguir. Vim mais para ver como era", diz.

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