São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Exposição da privacidade marcou vida do casal

MANUEL DA COSTA PINTO

O casal Sartre e Simone de Beauvoir pontificou na intelectualidade francesa por pelo menos quatro décadas, até a morte do filósofo, em 1980.
Em 1938, com a publicação do romance }A Náusea, o professor de filosofia Jean-Paul Sartre atingiu notoriedade, passando a encarnar o protótipo do intelectual engajado, cujo mal-estar diante de um mundo injusto e hipócrita clamava por mudanças radicais.
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Paris já não era uma festa, em que escritores de credos políticos diferentes partilhavam civilizadamente as mesas dos cafés.
Contestar os conservadores, portanto, era também contestar o modo de vida burguês –e Sartre e Simone de Beauvoir souberam como ninguém combinar os ingredientes da insurreição ideológica, da participação política e da revolução dos costumes.
Eles haviam se conhecido em 1924, na École Normale Supérieure –uma instituição conservadora em que a simples presença de uma mulher ia de encontro à ordem vigente.
Juntos, Sartre e Simone tornaram esse desafio um hábito. Sua vida sexual livre denotava um certo gosto pelo escândalo, mas era também um aspecto de um engajamento filosófico mais amplo –o existencialismo.
Criação de Sartre, o existencialismo francês teria em Simone sua vertente feminista, em livros como ``O Segundo Sexo".
A frase ``o homem está condenado à liberdade", de Sartre, significava que o homem deveria ter consciência da gratuidade do mundo –mas também da responsabilidade contida em suas decisões.
Isso significava uma exposição pública voluntária, que se intensificaria entre as décadas de 50 e 70. Exposição de idéias –como nas inúmeras polêmicas de Sartre com outros intelectuais (Camus, Merleau-Ponty)–, mas também exposição da vida privada –pela ostentação dos amantes do casal.

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