São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 1994
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Lamblin expõe motivos das acusações

CÁSSIO STARLING CARLOS

Autora das ``Memórias de uma Moça Malcomportada" defende a continuidade entre vida e pensamento
Leia a seguir a entrevista que Bianca Lamblin concedeu à Folha, por telefone, de Paris.

Folha - Seu livro pode ser lido como uma paródia das ``Memórias de uma Moça Comportada", de Simone de Beauvoir?
Bianca Lamblin - Mal comportada é, de certo modo, o avesso de comportada. Então, é um título paródico. Mas o conteúdo do livro não é paródico. Ele é crítico.
Folha - Por que a senhora decidiu escrever suas memórias?
Bianca - Em 1990 apareceu a correspondência entre Simone e Sartre, editada em dois volumes pela Gallimard, e o ``Diário da Guerra". Nestas cartas, foram reveladas muitas coisas que para mim eram novas e terríveis. A leitura delas me mostrou que Simone de Beauvoir tinha me enganado durante toda a vida dela.
Então, decidi escrever toda a verdade sobre minhas relações com ela e com Sartre. Decidi escrever esta história para dizer o que ela significou para mim.
Folha - O livro contém detalhes muito íntimos de sua vida. A senhora não ficou constrangida em revelá-los?
Bianca - Eu revelei apenas o que era absolutamente necessário para comprender quem foi Sartre e quem foi Simone.
Folha - Suas memórias podem ser lidas também como uma demolição do mito de Sartre?
Bianca - Certamente. Mas, para mim, tanto faz.
Folha - Como os amigos de Sartre e de Beauvoir reagiram ao livro?
Bianca - Não sei. Eles provavelmente tiveram alguma reação, mas eu não tomei conhecimento.
Folha - Como a senhora considera o fato de seu livro ser publicado em outros países?
Bianca - Eu fico impressionada que possam ler meu livro no Brasil. Eu sei que Simone de Beauvoir e Sartre ainda têm uma grande influência em todo o mundo. Eu não pretendi fazer ciência, apenas tentei mostrar como eles eram insensatos em suas relações com as pessoas.
Ademais, tentei mostrar as consequências do que se pode pensar das teorias deles. O que quer dizer, na minha opinião, que não pode haver uma ruptura completa entre a vida e o pensamento.
Quando se sabe o que eles fizeram comigo, penso que isso tem como consequência que não se pode mais acreditar profundamente nas idéias que eles desenvolveram.
Por exemplo, não se pode mais acreditar que Simone de Beauvoir tenha sido uma feminista. É impossível continuar acreditando nisso considerando a maneira pela qual ela me tratou.
Folha - O livro procura deixar isso bem claro, não?
Bianca - Em razão da relação dela com Sartre... era uma família de uma tal natureza que torna-se difícil acreditar em tudo o que ela escreveu sobre o feminismo.
O fato de eles terem me abandonado em 1940, quando a situação era dramática na França, particularmente para os judeus, não foi por acaso. Logo, a impressão que tive quando li as ``Cartas da Guerra" foi a de poder compreender o que não conseguia antes.

Livro: Memórias de uma Moça Malcomportada
Autora: Bianca Lamblin
Lançamento: Record
Quanto: R$ 9

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