São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994
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Violência atemoriza até os policiais

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

A violência dos torcedores nos estádios também atemoriza os policiais militares responsáveis pela segurança.
Obrigados a enfrentar facções que se armam e se dispõem a confrontos diretos, os policiais do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar acumulam histórias em que arriscaram a vida.
"Todo policial é membro da torcida adversária para as pessoas que vão aos estádios", atesta o sargento Ronaldo Amaral que, ao lado de Luís Carlos Galhardo, Hélio Gonçalves e Pedro Lipe, soma mais de dez anos de trabalhos em campos de futebol.

Folha - Como é manter a ordem entre torcedores cada vez mais violentos?
Pedro Lipe - Difícil. A vontade de brigar é cada vez maior e cerca de 90% dos torcedores hoje têm disposição para enfrentar a polícia.
Folha - E esses confrontos deixam que tipo de sequela?
Luís Galhardo - Perdi a ponta do dedo da mão direita ao levar uma garrafada no jogo Corinthians e Flamengo, no Pacaembu, em 91. Eu estava no campo. O medo é tanto que, até quando passa um pássaro por perto, a gente abaixa a cabeça, com medo de ser uma pedra.
Folha - E como evitar esse tipo de armamento adaptado?
Hélio Gonçalves - O grande problema são os administradores dos estádios, que fazem vista grossa e permitem o acesso de pessoas com objetos perigosos. Sempre antes dos jogos no Pacaembu, somos obrigados a vistoriar debaixo das cadeiras numeradas. Ali é o refúgio de garrafas de água e cerveja, que são vendidas pelos ambulantes. As garrafas acabam virando arma.
Ronaldo Amaral - A péssima manutenção dos estádios também ajuda. Há dois anos, alguns torcedores arremessaram uma catraca nos policiais, também no Pacaembu. Mas o pior é o Morumbi.
Folha - Por que?
Amaral - Nos banheiros do setor das numeradas e cativas, há um vão que permite a recepção de objetos vindos do lado de fora do estádio, amarrados por uma corda. Fizemos um teste e é possível a entrada de armas por esses banheiros, até de metralhadoras.
Gonçalves - Até agora só descobrimos tráfego de comida e bebida que são vendidos ilegalmente. Mas, por precaução, sempre alguns policiais fazem a ronda.
Folha - Esses problemas justificam o uso da força na prevenção de acidentes?
Galhardo - Dependendo do momento, sim. Quando há uma confusão entre torcedores, o policial tem que gritar para se impor, mesmo que isso assuste. A violência sempre é evitada, mas é usada quando em uma situação crítica.
Folha - Há casos de abuso?
Lipe - A polícia foi acusada disso no caso da agressão à filha do presidente do São Paulo (Fernando Casal de Rey). A violência nunca é premeditada por parte dos policiais. Naquele caso, quando se separava uma briga, a menina estava envolvida e, na confusão, lamentavelmente foi atingida.
Gonçalves - O problema é que os torcedores que brigam são imprevisíveis. Uma vez um torcedor que tentava invadir o campo do Morumbi caiu no chão da geral. Pensei que tivesse desmaiado e, quando me aproximei para socorrer, ele deu um chute que raspou meu nariz. Se me acertasse, poderia ter me arrebentado.

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