São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994
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Diretor prega a tolerância

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em "Onde Fica a Casa de Meu Amigo?" (87) um menino procura desesperadamente a casa de um colega para devolver seu caderno. Assunto banal de que Kiarostami tira um notável poema sobre a amizade, a tenacidade, a responsabilidade.
Em "E a Vida Continua" (92), um diretor de cinema percorre o país devastado pelo terremoto de 1990, procurando pelo jovem ator do filme de 87. Em "Através das Oliveiras", feito no mesmo local, os dois personagens principais se amam, mas sobre seu amor pesa um interdito. A tensão desse desejo atravessa o filme.
São três trabalhos que se tramam ao longo do tempo e de acasos (como uma tapeçaria) onde um filme se imbrica em outro.
Entre esses três, há "Close Up" (1990), filme urbano sobre um pequeno vigarista se faz passar por diretor de cinema e acaba preso. Depois, a história se desdobra e Kiarostami filma o julgamento. Ao longo dele, os implicados passam a se conhecer melhor, a entender uns aos outros.
Esses quatro filmes formam um jogo de espelhos, cuja extensão, referências e decorrências é melhor nem tentar analisar em poucas linhas. São profundamente políticos (embora o diretor não goste de falar disso), na medida em que apontam para o conhecimento mútuo, a quebra dos preconceitos e a tolerância (isso, num Irã cheio de feridas). São humanistas, mas num sentido moderno, freudiano, da palavra: neles, o homem é central, mas não é o centro de si mesmo, nem de suas ações.
(IA)

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