São Paulo, quarta-feira, 2 de novembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Mais comida

A cesta básica atingiu custo recorde ontem. Da faixa de R$ 80,00 em que estava até novembro de 1993, chega agora a R$ 108,25. O compulsório sobre os empréstimos e a elevação dos juros foram a resposta do governo à pressão dos preços. Mas, se o cerco às vendas a prazo ajuda a conter o preço dos bens duráveis, o mesmo não ocorre em relação à comida.
Na ausência de produção capaz de suprir o consumo de liquidificadores ou geladeiras, são razoáveis medidas que adiem as compras. Mas quando se trata de alimentos é preciso buscar alternativas.
Nesse caso, aumentar a produção não é só urgente, como também possível no curto prazo. Em quatro ou seis meses planta-se e colhe-se milho, arroz, feijão, soja. Por isso uma vigorosa política de estímulo à agricultura seria uma importante contribuição à estabilidade econômica e ao bem-estar dos brasileiros.
Para que cresça efetivamente o abastecimento, a destinação de verbas é apenas o primeiro passso. É necessário eliminar as falhas pelas quais se esvaem os recursos do crédito agrícola. O sistema de financiamentos deve garantir que a produção realmente ocorra e a colheita chegue às mesas da população. Pelos mecanismos atuais, não é raro que o governo gaste com o subsídio, o fraudador ganhe muito dinheiro no mercado financeiro e a população continue sem comida.
Em vez de entregar os recursos apenas com base em projetos, contando com uma fiscalização cujo alcance é evidentemente limitado, melhor seria financiar diretamente as atividades envolvidas na produção: a compra de sementes e implementos, por exemplo.
O crescimento do consumo sustenta-se no ganho salarial dos setores que mais perdiam com a inflação. Impedir a volta da inflação sem destruir esse impulso de crescimento é o grande desafio do país.
Anunciada ontem, a redução nos juros dos empréstimos de longo prazo do BNDES favorece os novos projetos de investimento. Essas iniciativas, contudo, têm efeito apenas a longo prazo. E há um desafio imediato: produzir comida.

Próximo Texto: Paliativos necessários
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.