São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Indústria de alimento segmenta lançamentos

MARISTELA MAFEI
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Depois de um período de recessão internacional, o consumidor volta às compras. Prioriza produtos sofisticados mas lota as lojas de "discount" –em um comportamento que traz novos desafios para as gigantes mundiais das indústrias de alimentos.
Para mostrar os lançamentos que deverão conquistar esse novo consumidor, 4 mil indústrias de alimentos de 80 países estiveram reunidas na última semana no Sial D'or, a maior feira do setor, realizada em Paris (França).
A retomada das compras surge em momento difícil para as grandes marcas mundiais.
O consumidor quer produtos segmentados e sofisticados –mas nas compras de produtos para uso diário não hesita em procurar as chamadas "lojas de discount".
Dentro da estratégia de fazer volume e ganhar no giro, essas lojas substituem marcas líderes por produtos mais baratos.
No Brasil, esse tipo de comércio varejista faz sua estréia ainda em 95, através da rede Wal-Mart, sócia das Lojas Americanas.
Para combater as "discounts", os supermercados tradicionais lançam produtos com marcas próprias, o que redobra a sentinela das marcas líderes.
Na Inglaterra, em segmentos como sucrilhos, marcas próprias respondem por 95% das vendas.
No Sial, a inglesa H&C (Harrisons & Crosfield) anunciou joint-venture com empresas argentinas para atuar na América Latina.
Convencidas de que os canais de distribuição vão selecionar as marcas mais fortes, as grandes indústrias de alimentos do mundo armam estratégias para se diferenciar da concorrência.
A italiana Parmalat e a suíça Nestlé acham importante descobrir uma maneira tecnologicamente diferenciada de produzir.
No Sial, a Nestlé francesa –que fatura duas vezes mais do que a brasileira, em um país dez vezes menor– apresentou 50 linhas de novos produtos.
A marca coloca nas prateleiras um tipo de leite diferente para cada etapa da vida de uma pessoa, até os 18 anos. A mesma tendência segue a Parmalat, que lança leite em embalagem individual, para crianças de até três anos.
Ao contrário do Brasil, onde marcas líderes como Kibon e Sadia fornecem para marcas próprias de supermercados, na Europa os grandes fabricantes não querem ouvir falar sobre a possibilidade.
"Não se sabe se essa tendência vai durar muito tempo", avalia Pierantonio Pistrelli, diretor da Cirio Finanzeira, do grupo italiano Cragnotti & Partners.
"Não se pode passar noção de qualidade se não existir marca", acredita Domênico Barili, diretor do grupo Parmalat.
A Cirio Finanzeira optou por trabalhar com duas linhas de produtos. Uma de "combate", com maior penetração em hipermercados e "discounts" (marca De Ricci) e outra com produtos mais sofisticados (marca Cirio).
"O comportamento do consumidor está em permanente mudança", diz Anne Marie Adine, diretora de relações com o mercado da Nestlé da França.
"As compras são menos impulsivas e mais racionais; há maior reflexão sobre fatores como nutrição, paladar, tradição, ecologia e sentido prático", afirma.
A linha de lançamentos de pratos prontos e de congelados foi a que mais cresceu no Sial 94.
Montaram estandes no Sial quatro empresas brasileiras –Lacta, Perdigão, Ceval e Café do Ponto.
A jornalista Maristela Mafei viajou a Paris a convite da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação).

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