São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De volta ao mundo

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES – Desde o início dos 90, voltaram a atrair capitais os países latino-americanos, expulsos até então do mapa da atenção mundial pelas crises crônicas que infernizaram suas vidas. Mas, até agora, eram decisões de corporações, que não representavam interesse institucional dos governos do mundo desenvolvido.
Agora, a situação está mudando. A União Européia acaba de aprovar documento em que afirma que "o Mercosul aparece como novo pólo de crescimento em escala mundial e, para a Europa, como uma região estrategicamente chave".
Das palavras à ação: está marcada para o próximo dia 24, em Bruxelas (Bélgica), capital de fato da União Européia, uma reunião entre a UE e os chanceleres dos quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
"Isso demonstra que, no Hemisfério Norte, estão começando a nos levar em conta", interpreta o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo. O chanceler argentino, Guido di Tella, disse à Folha que vai à reunião com o propósito de discutir o livre comércio entre as duas regiões não apenas em termos de indústria e serviços. Quer agropecuária na pauta.
Traduzindo: quer discutir os pesados subsídios da UE à sua agricultura, o que prejudica exportadores de produtos do gênero, como a Argentina, principalmente, mas também o Brasil.
Cavallo festeja o encontro como uma alternativa a mais de negociação para o Mercosul, a somar-se ao Nafta (EUA, Canadá e México) e aos "tigres asiáticos".
Para o governo Fernando Henrique Cardoso, será ouro sobre azul: o presidente eleito não se cansa de dizer que sua estratégia diplomática é o multilateralismo, ou seja, negociar com todos os blocos ou países, sem dar prioridade a qualquer um deles.
Tem lógica: somadas, as economias dos quatro do Mercosul representam algo em torno de US$ 800 bilhões, o suficiente para fazer do bloco a quarta potência mundial, atrás apenas do Nafta, da própria UE e do Japão. No Brasil, pouca gente se deu conta disso.

Texto Anterior: Quadrilhas motorizadas
Próximo Texto: Para falar das flores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.