São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Conflito racial marca história sul-africana

Nomes famosos refletem diversidade étnica do país

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO À ÁFRICA DO SUL

A intolerância deve virar passado na história da África do Sul.
Um bom indício de que o apartheid não acabou apenas no papel é o governo multirracial e pluripartidário de Nelson Mandela, que tem o ex-presidente Frederik de Klerk ocupando a segunda Vice-Presidência e o zulu Mangosuthu Buthelezi num ministério.
Mandela e De Klerk dividiram o Nobel da Paz em 1993, prêmio que já foi dado para o arcebispo anglicano Desmond Tutu, em 84.
A escritora Nadine Gordimer também ganhou o seu, de Literatura, em 1991 e sua militância anti-apartheid deve ter sido levada em conta.
Mas como a história não começa com o fim do regime de segregação racial, vale lembrar alguns personagens:
Bartolomeu Dias (?-1500) - Navegador português que dobrou o cabo das Tormentas em 1487, depois rebatizado de cabo da Boa Esperança, descobrindo a passagem do Atlântico para o Índico.
Jan van Riebeeck (1619-1677) - Holandês que fundou a Cidade do Cabo, em 1652. Funcionário da Companhia das Índias Orientais, construiu um forte e um entreposto para abastecimento de navios.
Shaka (1787-1828) - Chefe tribal zulu que montou um império. Dingane, seu sucessor, pôde derrotar os bôers em 1838 graças a essa organização que somava 50 mil zulus e um domínio de 500 mil km2.
Andries Pretorius (1799-1853) - General e político bôer que participou de batalhas na região do Cabo e viajou até Natal. Esse movimento migratório dos "voortrekkers" (pioneiros) ajudou a conquista territorial e também foi responsável por batalhas entre negros e brancos.
Paul Kruger (1825-1904) - Estadista africâner que marcou a história do país. Foi contra a anexação do Transvaal pelos ingleses e, em 1880, tomou parte na restauração da República. Foi presidente da região do Transvaal (1883-90) e declarou guerra à Grã-Bretanha. Exilado, morreu na Suíça.
Cecil John Rhodes (1853- 1902) - Político e homem de negócios. Nasceu na Inglaterra e aos 17 anos foi enviado para a Cidade do Cabo. Ficou rico com a descoberta de diamantes em Kimberley. Foi primeiro-ministro do Cabo (1890- 96). Nesse período construiu as primeiras grandes estradas do país.
Louis Botha (1862-1919) - General que atuou na criação da República Sul-Africana, em 1888. Foi responsável pela resistência bôer aos britânicos no Transvaal. O então soldado e jornalista Winston Churchill foi seu prisioneiro.
James Hertzog (1866-1942) - General e político, tendo lutado na guerra dos Bôeres. Fundador do Partido Nacional, foi primeiro-ministro da União Sul-Africana em 1924. Hertzog é também responsável por leis segregacionistas e defendeu o desenvolvimento em separado para negros e brancos.
Mohandas Gandhi (1869- 1948) - Ideólogo da não-violência e líder na luta pela independência do seu país de origem, a Índia. Gandhi, que era advogado, morou em Durban, África do Sul (1893- 1915). Foi lá que iniciou sua militância política, fundando o Partido do Congresso Indiano, em 1894.
Steve Biko (1946-77) - Um dos mártires do movimento negro, morreu na prisão em consequência de torturas. Foi líder estudantil e fundou, em 1968, o Movimento de Consciência Negra.
Desmond Tutu (1931) - Arcebispo anglicano, recebeu o Nobel da Paz em 1984 por sua luta contra o apartheid. Pregou a luta não-violenta e foi favorável às sanções econômicas contra seu país.
Mangosuthu Buthelezi (1928) - Atual ministro do Interior. Líder dos zulus e do partido Inkhata, foi adversário do Congresso Nacional Africano (CNA).
Frederik de Klerk (1936) - Advogado, foi antecessor de Nelson Mandela na Presidência e promoveu mudanças que culminaram no fim do apartheid. Governou o país entre 1989 e 1994, libertando presos políticos e suspendendo o estado de emergência.
Nelson Rolihlahia Mandela (1918) - Também advogado, é o presidente sul-africano desde maio. Fundador da ala militar do CNA, passou 27 anos na prisão. É o primeiro negro a governar o país, encerrando um ciclo em que negros (70% da população) viveram sob regime de dominação branca.

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