São Paulo, quinta-feira, 3 de novembro de 1994
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Montanha da Mesa é a 'escultura' do Cabo

SILVIO CIOFFI
DO ENVIADO ESPECIAL À ÁFRICA DO SUL

Montanha da Mesa á a 'escultura' do Cabo
Cidade tem comércio moderno, bons hotéis e museus
A Cidade do Cabo não seria a Cidade do Cabo sem seu porto histórico recém-restaurado, o "Waterfront", e sem a célebre montanha da Mesa.
A capital legislativa da África do Sul tem 2 milhões de habitantes e origem no tempo em que dobrar o cabo significava virar a mesa do comércio internacional.
Fica na planície costeira da Montanha da Mesa (de 1.088 m), a mesma que já marcou o meio do caminho para o Oriente. Nessa época o primeiro marinheiro a divisar o contorno da Mesa recebia uma moeda de ouro.
Hoje –como nos séculos 17 e 18– essa montanha-referência é tão emblemática quanto o Pão de Açúcar, no Rio, e o Diamond Head de Oahu, no Havaí.
Emoldurada pela montanha, a Cidade do Cabo –também chamada Cape Town e Kaapstad– tem comércio moderno, antiguidades, ótimos hotéis, museus e temperatura média de 16,3oC.
A Montanha da Mesa e Cidade do Cabo são lugares em que a geografia determina a história.
O primeiro a chegar na região foi Bartolomeu Dias, em 1488, batizando o cabo que se ergue a 80 km ao sul da montanha da Mesa de cabo das Tormentas.
Já o navegador Vasco da Gama chegou em 1497, dobrando o cabo –depois chamado de cabo da Boa Esperança– na viagem marítima pioneira às Índias.
A partir daí barcos passaram a fundear nesse porto natural.
Em 1500 o próprio Dias não escapou da morte nessa região onde ventos alcançam 120 km/h.
O corsário britânico Francis Drake também fundeou aos pés da Mesa, em 1579, e anotou em seu diário que o cabo era o mais distante e distinto de todo o mundo.
Coube a Jan van Riebeeck fundar a Cidade do Cabo, a primeira da África do Sul, em 1652.
Os colonos holandeses chegaram em 1666, cultivaram a terra e criaram o estilo singelo das construções coloniais caiadas do Cabo.
Depois vieram os franceses huguenotes em busca de liberdade religiosa. Foram seguidos por aventureiros da Escócia, Escandinávia, Polônia e Suíça, formadores da população bôer (africâner).
A Companhia Holandesa das Índias Orientais também fez uma sede nessa encruzilhada de rotas.
Foi de lá que saíram, fugidos dos ingleses, os "voortrekkers", bôers que ocuparam o nordeste do país, descobrindo ouro e diamantes no Transvaal.
Como todos os portos, a Cidade do Cabo é um lugar de troca e de encontro e, no tempo dos navios a vapor, foi formigueiro de tripulações, carregadores e empresários.
O veleiro Victoria –ancorado no "Waterfront"– é símbolo de uma época em que a descoberta de diamantes e ouro, no final do século 19, mudaram a África do Sul.
Em 1875 a Cidade do Cabo tinha 45 mil habitantes; em 1891 a população contava 67 mil pessoas e, em 1900, a área do porto dava emprego para 5.000 trabalhadores.
Nas guerras anglo-bôers (1899-1902) o sossego do porto foi agitado por 200 navios.
Testemunhas dessa era, os prédios preservados de "Waterfront" funcionam agora como lojas, museus e restaurantes. A torre do Relógio (1882) e construções do início do século são exemplos da revitalização na área do porto.
Atrás de tudo está a Montanha da Mesa, a mesma que serviu de referência para as navegações e que, depois de séculos, não perdeu o seu mistério.

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