São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994 |
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Neil Jordan explora contradição entre repressão e sexualidade
ANA MARIA BAHIANA
Folha - Este filme demorou 17 anos para ser realizado e teve várias versões de script que jamais foram em frente porque eram sempre consideradas ousadas demais. Por que agora tudo deu certo? Os tempos teriam mudado? Neil Jordan - Não sei, sinceramente. Acho até contraditório. Se os tempos mudaram, foi para pior: ficaram muito mais conservadores. Hoje em dia as pessoas têm muito mais problemas com violência e com sexualidade na tela, e meu filme tem ambas as coisas em grande quantidade. Creio que o que aconteceu foi que simplesmente resolveu-se voltar ao início, e contar a história como ela está no livro de Anne Rice. Voltar ao texto e não fazer do texto uma metáfora para coisa alguma: esta é a história de Louis, Lestat e Cláudia, uma família disfuncional de vampiros. Folha - É verdade que você sofreu pressões para atenuar o conteúdo erótico, especialmente o conteúdo homoerótico, do texto? Jordan - Primeiro eu queria deixar bem claro que não sofri pressões de ninguém. Nem do estúdio, nem de David (Geffen, produtor do filme), nem de Tom (Cruise). Na verdade, tive exatamente o mesmo nível de liberdade que eu teria fazendo um filme independente –só que com os recursos de um grande estúdio. Posto isso, quero dizer que foi exatamente a sexualidade que me atraiu neste projeto. Mas esta é uma sexualidade de vampiros, seres que não praticam sexo, mas cujas vidas estão constantemente repletas de desejo. Essa ironia, essa contradição, foi meu principal foco de interesse no projeto. Folha - Sua escolha de Tom Cruise para o papel de Lestat provocou uma enxurrada de críticas, inclusive da própria Anne Rice. Qual sua reação a isto? Jordan - Eu compreendi o ponto de vista de Anne Rice, embora não concordasse com ele. Sou escritor também e sou ciumento com meus textos –por isso jamais dei permissão para que nenhum deles fosse adaptado para o cinema. Mas, uma vez que você cede os direitos, você entregou seu texto à visão de outra pessoa. O problema da maioria das adaptações de livros em Hollywood é que elas acabam feitas por comitê e não de acordo com a visão de uma pessoa. Tom foi minha escolha, e eu estava certo: eu precisava de alguém jovem, bonito e infinitamente charmoso. Como um vampiro. Como um astro de Hollywood. Tom tem um lado sombrio que poucas pessoas conhecem e que procurei explorar com este filme. E acho que as pessoas verão que eu tinha razão. (AMB) Texto Anterior: Diretor estréia como autor teatral nos EUA Próximo Texto: Confiança não deve afastar entusiasmo Índice |
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