São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994
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Nirvana revive em CD e vídeo 'Unplugged'

DANIELA ROCHA
DE NOVA YORK

Nirvana não acabou. Permanece como o marco da chamada "Geração X" –a geração dos "twentysomethings" perdidos em seu próprio talento. Na última terça-feira, chegou às lojas norte-americanas mais uma prova disso: o CD "Nirvana Unplugged in New York", gravado durante o programa acústico da MTV em 18 de novembro de 1993. O vídeo do programa foi lançado anteontem.
Quase um ano depois de sua gravação, e sete meses após o suicídio do vocalista do grupo, Kurt Cobain, os lançamentos do disco e do vídeo são uma belíssima homenagem não apenas a ele e aos fãs da banda, mas sobretudo ao rock.
Ao todo são 14 faixas no CD, que incluem três da banda Meat Puppets (uma das preferidas de Cobain): "Lake of Fire", "Plateau" e "Oh Me".
O hit "Come As You Are", dispensou apresentação prévia durante a gravação e, claro, arrancou aplausos entusiasmados em seus inigualáveis três primeiros acordes de guitarra. Na gravação acústica, a voz de Cobain assume mais força e clareza.
O disco abre com a balada "About a Girl", e com o comentário de Cobain: "É do nosso primeiro álbum ('Bleach'). A maioria das pessoas não deve conhecer."
Sua afirmação é real. O trio de Seattle, formado por Cobain (vocal e guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Dave Grohl (bateria), vendeu dez milhões de cópias e tornou-se conhecido no mundo todo com o lançamento do seu segundo álbum, "Nevermind".
A entrada no "mainstream" foi tão repentina que nem o próprio Nirvana soube como lidar com tanto sucesso –que virou motivo de depressão para Cobain.
Billy Corgan, vocalista da banda Smashing Pumpkins, afirmou na edição especial da revista "Rolling Stones - Next Generation" que existem os grupos pré-Nirvana e pós-Nirvana.
Ele quis dizer com isso que o Nirvana foi responsável pela grande virada de mentalidade do mercado fonográfico: underground pode sim vender milhões e milhões de cópias, fazer vídeos, aparecer na MTV etc etc, sem virar comercial.
O Nirvana mostrou isso. O encarte do disco é sóbrio. Traz uma sequência de fotos coloridas e p&b da gravação do programa. O cenário é repleto de flores e velas.
As músicas da banda ficaram ótimas em arranjos para o acústico. A bateria perde força para as cordas e, em algumas faixas ("Dumb" e "Something in The Way"), o violoncelo dá o tom melódico, introspectivo, às vezes até triste.
O disco tem mais baladas que "rock grunge" (apesar de serem regravações). Até a faixa "The Man Who Sold the World" (de David Bowie), em que Cobain canta com voz rouca "I never lost my control" (Nunca perdi o autocontrole), virou balada.
Quem viu o show do Nirvana no Brasil, em 1993, deve se lembrar do momento em que todos os integrantes da banda trocam de instrumentos –Cobain foi parar na bateria. Em "Unplugged in NY" acontece algo parecido.
Na faixa "Jesus Desn't Want Me For a Sunbeam", o baterista Grohl toca baixo e o baixista Novoselic toca nada menos que acordeão –que faz o arranjo parecer britânico.
O que parecia impossível virou realidade. O Nirvana conseguiu se superar e mais uma vez surpreender com "Unplugged in NY".

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