São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994
Texto Anterior | Índice

"No Brasil não há união"

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os aspectos que podem ser vistos como influências brasileiras na coleção da marca G estão estampas de penas de índios e tecidos com aparência de couro de tatu. Leia a seguir, a entrevista com a estilista Gloria Coelho.
Folha - Existe moda brasileira?
Gloria Coelho - Existe. Moda feita por brasileiros é moda brasileira. Se você vê e cria em cima, então a moda é sua, é brasileira. Moda brasileira é a nossa expressão. O que fazemos é uma seleção de tudo o que nos influencia.
Folha - Por que uma preocupação em mostrar uma moda brasileira este ano?
Gloria - Acho que as pessoas se ligam nas necessidades. Uma delas é a imprensa que trabalha e puxa esta necessidade e vice-versa. A outra é o que as revistas anunciam. Moda brasileira é um tema que pulsa. Este ano resolveu-se mostrar temas mais étnicos, que também fazem parte da moda brasileira. Está presente também na moda internacional.
Folha - O que tem de brasileiro na sua moda?
Gloria - As coisas que existem na minha moda são informações que eu assimilo. O mundo copia tudo, por que a gente não pode copiar a gente mesmo, nossos escritores, nossos artistas? No caso da tatuagem, fiz uma pesquisa. É um elemento do final do século passado que hoje está na moda. A Semana de Arte de 1922 também foi um tema que me influenciou. É normal ter influências de tudo o que se vive. Moda é universal.
Folha - O que tem de estrangeiro na sua moda?
Gloria - É uma questão de escolha. Você escolhe fazer coisas que viu e gostou e isso pode vir de qualquer lugar. O que tem de fora está na sua roupa e também no jeito que você se veste.
Folha - Você acha que o Brasil pode conquistar um espaço internacional ao adotar um aspecto regionalista?
Gloria - Se for bem feito e verdadeiro, sim. O estilista pode transmitir o que quiser e pode influenciar outros lugares no mundo com sua moda. Com isto, ele estará escrevendo um capítulo da história. Sem um conhecimento da nossa história, não existe história da moda. O aspecto regional pode emocionar, se bem realizado.
Folha - Como você vê as críticas de oportunismo ou apropriação em relação ao uso de aspectos da cultura brasileira?
Gloria - O problema sério no Brasil é que não há união. Brasileiro é recalcado; se o amigo faz sucesso, é logo odiado. Isso precisa acabar, temos que ter orgulho uns dos outros.
Folha - Moda regional dá certo em capitais como Rio e SP?
Gloria - Pode dar. O que existe, na verdade, são diferenças de personalidade de quem veste.

Texto Anterior: "Moda brasileira é utopia"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.