São Paulo, sábado, 5 de novembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Sérvios anunciam guerra total

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O líder sérvio da Bósnia anunciou ontem mobilização geral para iniciar uma "batalha decisiva" na guerra contra muçulmanos e croatas da ex-república iugoslava.
Radovan Karadzic anunciou a decisão do comando supremo da autoproclamada república sérvia da Bósnia e disse que será pedida ao seu parlamento a decretação de lei marcial em todo o território bósnio controlado pelos sérvios.
A medida visa fazer frente às vitórias do Exército da Bósnia, controlado pelos muçulmanos, nas últimas duas semanas. Anteontem, foi tomada a cidade de Kupres. Segundo o tenente-coronel Tim Spicer, porta-voz das Forças de Paz da ONU na Bósnia, um território de 150 km2 caiu em mãos do Exército.
Kupres foi a primeira cidade de maioria muçulmana tomada pelos sérvios, há dois anos e meio. A 1.190 metros de altitude, o planalto de Kupres é um posto de controle das estradas que ligam a costa adriática ao resto do país.
É também um ponto importante na ligação da capital, Sarajevo, com o encrave muçulmano de Bihac, no noroeste, onde o Exército já tomou cerca de 250 km2 de terreno controlado pelos sérvios.
Num aparente medida de retaliação, os sérvios dispararam dois mísseis que caíram perto de uma escola em Bihac. Sete pessoas ficaram feridas, inclusive uma criança. No total, sete mísseis foram disparados contra o encrave.
"Esse ataque imperdoável por mísseis terra-ar foi desprovido de qualquer valor militar e só pode ser considerado um ato de terrorismo, inconsequente quanto ao alvo, e voltado a inspirar medo na população de Bihac", disse Thant Myint-U, porta-voz da ONU.
Karadzic anunciou a convocação de estudantes para lutar e a instalação de economia de guerra. Karadzic fez o anúncio em uniforme de combate ao lado de Ratko Mladic, líder militar das milícias sérvias da Bósnia.
Mladic não apareceu em público nos últimos dias, o que provocou especulação de que teria sido afastado do comando.
As declarações de Karadzic parecem ter objetivo mais retórico. Desde que perderam o apoio da República da Sérvia por não aceitarem um plano de paz, os sérvios da Bósnia não conseguem reagir a ataques com eficácia. Falta-lhes principalmente combustível para deslocamentos militares.
Os soldados também têm se recusado a lutar a não ser em suas próprias regiões. Segundo observadores da ONU, os soldados acusam os líderes de ceder terreno conquistado a muito custo, como o monte Ingman, ao sul de Sarajevo, entregue à ONU e depois tomado pelos muçulmanos.

Próximo Texto: Mulher que mobillizou os EUA para procurar filhos confessa assassinato
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.