São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Compulsórios devem elevar ainda mais juro do crédito

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Compulsórios devem elevar ainda mais juro do crédito
Dinheiro recolhido até fim do ano será equivalente às reservas internacionais
Os diversos compulsórios criados pelo Banco Central (BC) vão retirar da economia até dezembro, o mês do Natal, aproximadamente R$ 41,9 bilhões.
O número é uma estimativa colhida pela Folha junto ao mercado financeiro. Em alguns casos, os valores foram subestimados.
Desde a implantação do real, o BC criou os seguintes compulsórios:
1) 100% sobre o crescimento dos depósitos em contas-correntes. Isto é, se existiam depositados R$ 10,00 e passaram a ter R$ 12,00, os bancos são obrigados a depositar R$ 2,00 no BC;
2) 30% sobre o total de CDBs emitidos. Ou seja, se o estoque era de R$ 100, os bancos tinham que depositar o equivalente a R$ 30 em títulos públicos no BC;
3) 30% sobre a caderneta de poupança (sendo 20% em dinheiro e 10% em títulos públicos);
4) 15% sobre as operações de empréstimo (com exceção das do câmbio);
5) 60% sobre as operações de assunção de dívida (o importador pagava antecipadamente ao banco, que, por sua vez, assumia a dívida junto à empresa ou ao banco estrangeiros).
Todos estes compulsórios não afetam, diretamente, o cliente do banco (empresas ou pessoas físicas) –ao contrário do que aconteceu durante o Plano Collor, que retirou de circulação 80% dos haveres financeiros (dinheiro em poder do público mais tudo o que está aplicado).
O compulsório é uma relação exclusiva entre o BC e os bancos. Ele serve para reduzir a capacidade dos bancos de emprestar dinheiro ao setor privado.
O BC justificou a medida pela necessidade de reduzir o crescimento das vendas via crediário, que poderiam pressionar os preços e gerar inflação.
Na prática, com menos dinheiro disponível para emprestar, o preço do dinheiro (o juro) sobe.
Hoje, a diferença de taxas entre o over (títulos públicos, que não pagam compulsório) e o CDI (títulos privados) é de 0,12 ponto percentual ao dia.
Em dezembro, ela pode chegar, no limite, segundo avaliação colhida no mercado, a 0,5 ponto percentual ou o equivalente a 4,3% de juros ao ano.
O impacto maior, porém, não é no juro pago ao aplicador (que o CDI acaba refletindo), mas no cobrado no empréstimo. Hoje, a diferença entre estas duas taxas chega a 20 pontos percentuais ao ano.
O efeito do compulsório sobre a economia é gradual, já que os depósitos são feitos de forma crescente. Mas, em dezembro, todos eles estarão a plena carga.
Para se ter uma idéia da dimensão do enxugamento realizado, basta dizer que os R$ 41,9 bilhões correspondem a 23,8% do total dos haveres financeiros.
É também correspondente a 8,38% do PIB (Produto Interno Bruto). A título de comparação o setor automobilístico representa 10% do PIB.
Os R$ 41,9 bilhões equivalem também, em ordem de grandeza, às reservas internacionais do país (o caixa em moeda estrangeira, como o dólar) ou ao total dos depósitos feitos na poupança.
Por sua ordem de grandeza, o aperto na disponibilidade de dinheiro na economia pode, além de reduzir o crescimento das vendas via crediário, produzir um efeito colateral: inibir a produção pelo encarecimento do capital de giro das empresas.
O BC pode, se quiser, reduzir o tamanho do aperto de liquidez. Recomprando títulos públicos ou comprando dólar. Ambas as operações equivalem a injetar reais na economia.

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