São Paulo, domingo, 13 de novembro de 1994
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Tropas brasileiras patrulham Moçambique

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A MOCUBA, MOÇAMBIQUE

A guerra civil em Moçambique está acabando depois das eleições dos últimos dias 27 a 29, e uma prova disso pode ser encontrada na Província de Zambézia, que está sendo patrulhada por um contingente de pára-quedistas brasileiros das forças das Nações Unidas.
Zambézia era um dos principais centros da guerrilha da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana). É uma Província central, que estrategicamente divide o país.
Não estão ocorrendo incidentes graves na Província e os guerrilheiros ainda agora continuam entregando suas armas, apesar das apurações não estarem concluídas.
A Frelimo, do governo, deve sair vencedora das eleições.
Uma retomada da guerrilha seria difícil dado o número de armas recolhidas, embora se tema por eventuais casos de banditismo depois que as tropas da ONU saírem do país.
O governo também está fraco militarmente. Na capital, Maputo, existem centenas de veículos blindados sucateados. A base aérea mostra uma fila de helicópteros de ataque e de transporte inoperantes.
A ONU não repetiu o erro de Angola. Aqui o desarmamento foi quase total, diz o embaixador brasileiro, Luciano Ozório Rosa.
O major Franklimberg Ribeiro de Freitas, comandante do Cobramoz (Contingente Brasileiro em Moçambique) diz que antes das eleições foram coletadas 6.500 armas. Também foram recolhidos para destruição cerca de 124 mil cartuchos de munição.
Os brasileiros devem também fazer uma patrulha para mostrar presença, diz Franklimberg. O Cobramoz tem nove blindados Urutu, de fabricação brasileira, cada um transportando um grupo de combate de oito soldados. As patrulhas são feitas por um pelotão com três grupos de combate em três veículos. Uma companhia de 170 oficiais e soldados constitui o Cobramoz.
Em uma patrulha de 120 km ao sul de Mocuba, na direção do mar, a Folha pôde perceber a simpatia da população para com os brasileiros. Chefiada pelo primeiro-tenente Anatólio dos Santos Junior, a patrulha ocorreu sem incidentes. No início da missão do Cobramoz, lembra o cabo Renato Ramalho, os brasileiros frequentemente tinham de lidar com bloqueios de estradas por guerrilheiros ou soldados desmobilizados. Uma vez eles estavam roubando comida de um comboio de alimentos e nós impedimos, diz Ramalho, que também participou da patrulha sem incidentes (de terça, dia 8).
As afinidades de língua e cultura permitiram uma empatia entre o contingente brasileiro e a população moçambicana, diz o embaixador Ozório Rosa.
O sucesso da missão, que deverá ser encerrada até o fim do mês, poderá fazer com que o Brasil venha a ser convidado pela ONU para enviar tropas a Angola. Pensando na possibilidade, o Exército treinará quatro batalhões para essas missões. São os batalhões de infantaria motorizada de São Leopoldo (19º, RS); de Petrolina (72º, PE); e Rio de Janeiro (1º, o Sampaio), além de um batalhão de infantaria leve, de Lorena (5º, SP).
O repórter RICARDO BONALUME NETO viajou a Moçambique a convite do EMFA (Estado Maior das Forças Armadas).

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