São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Britânicos criam técnica contra falsa anestesia

DA NEW SCIENTIST E DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Psicólogos britânicos desenvolveram uma técnica com a qual os anestesistas poderão monitorar o grau de inconsciência em que o paciente se encontra durante uma cirurgia –e assegurar que ele não acorde no meio da operação.
O método pode tranquilizar pacientes assustados com relatos de pessoas que se mantiveram acordadas enquanto eram operadas.
Até agora, os médicos supunham que um paciente que não se recordasse de uma cirurgia deveria ter recebido anestesia suficiente.
Mas um grupo de psicólogos da Unidade de Psicologia Aplicada do Conselho de Pesquisas Médicas, em Cambridge, afirmam que é possível um paciente estar consciente durante uma cirurgia –e possivelmente sentir dor– e mesmo assim não se recordar de nada, depois.
Os pesquisadores constataram que pessoas que haviam recebido uma dose baixa de anestesia conseguiam reagir a testes simples de compreensão de palavras, movimentando suas mãos.
Depois de se recuperarem da anestesia, entretanto, elas não se lembravam das palavras utilizadas nos testes.
Monitorando a atividade elétrica do cérebro em reação a sons, Gareth Jones e sua equipe de pesquisadores do Departamento de Anestesia da Universidade de Cambridge, sediado no hospital Addenbrooke, afirmam haver encontrado uma medida sensível do grau de inconsciência em que um paciente se encontra.
A atividade cerebral do paciente pode ser monitorada durante o decorrer da cirurgia, conectando-o a um eletroencefalograma, ou EEG, através de eletrodos fixados em sua cabeça.
O paciente usa fones de ouvido através dos quais ouve cliques que lhe são tocados em diferentes frequências.
As respostas do cérebro aos cliques aparecem sob a forma de picos gráficos, em uma tela de computador.
Segundo Jones e sua equipe, um cérebro acordado apresenta reação mais forte a cerca de 40 cliques por segundo, porque é nessa frequência que alguns neurônios oscilam naturalmente.
A anestesia desacelera essas oscilações, de modo que o cérebro inconsciente reage com mais força a frequências mais baixas.
À medida que o cérebro começa a acordar, a frequência que produz a reação máxima vai aumentando gradativamente.
Mas a que frequência de cliques pode-se fazer o primeiro corte com segurança?
Os pesquisadores constataram uma correlação entre o desempenho de pacientes anestesiados em testes de compreensão e memória e a intensidade da reação cerebral a diferentes frequências de cliques.
Assim, deve ser possível determinar a frequência de reação a cliques em que um paciente fica inconsciente, e deixa de reagir aos testes psicológicos.
Isso deve ajudar os anestesistas a fazerem uma dosagem exata do anestésico, em vez de simplesmente ministrarem quantidades excessivas para assegurar que o paciente se mantenha desacordado, diz Jackie Andrade, da Unidade de Psicologia Aplicada.
Atualmente, segundo os cientistas, não existe nenhuma fórmula simples para determinar a quantidade exata de anestésico que um paciente vai precisar.
Medicamentos são usados para induzir a paralisia durante uma cirurgia. Se o paciente recobra a consciência durante a operação, não tem como avisar o anestesista do fato.
Segundo Andrade, alcoólatras e mulheres fazendo cesáreas sofrem riscos especiais.
Em ambos os casos, o anestesista tem dificuldade em ministrar doses exatas, que não sejam nem altas nem baixas demais.
Os alcoólatras manifestam tolerância a drogas, e portanto necessitam de quantidades maiores para perderem a consciência, mas também tendem a ter saúde mais delicada, de modo que altas doses podem ser prejudiciais a eles.
No caso de uma mulher que sofre uma cesariana, o excesso de anestésico pode prejudicar o bebê, enquanto a falta do mesmo pode levá-la a acordar antes do fim da operação.
Fígado artificial
Médicos do hospital do King's College, em Londres, obtiveram resultados positivos com implante de fígado artificial.
O fígado foi desenvolvido a partir de células humanas clonadas (copiadas de uma matriz).

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