São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Moradores entregam troféus a matadores

DA REPORTAGEM LOCAL

Seis homens e quatro mulheres, suspeitos de formarem um grupo de extermínio, foram presos mês passado na favela Pantanal (zona sul de São Paulo). No barraco onde parte deles se escondia, os policiais encontraram quatro troféus, que teriam sido dados pela população como prêmio pela morte de bandidos.
Segundo o delegado-titular do 98º Distrito Policial, Antônio Ubirajara, o grupo tem advogados pagos pelos moradores da favela e um dos presos teria afirmado que o preço por morte variava de R$ 500,00 a R$ 1.000,00.
O grupo foi preso a partir de uma carta anônima, recebida pelo delegado. Na carta, o autor identificava, por apelido, nove supostas vítimas do grupo, entre elas uma mulher que teve os seios cortados e um homem, cuja língua foi arrancada. Segundo o delegado, o número de vítimas pode ter chegado a 30.
Pelo boletim de ocorrência, o líder do grupo, José Domingos da Silva (Sassá), veio do Pernambuco, tem 27 anos e é analfabeto. No início da semana, ele foi transferido para o Centro de Observações Criminais, presídio de segurança máxima de São Paulo, onde estão confinados cerca de 70 matadores.
A matança na favela começou quando Sassá foi contratado por outro nordestino, o pintor Antônio Gonçalves, 42, para eliminar o grupo de um certo "Gabiru", que havia assaltado o barraco de sua cunhada e a estuprado.
Antes de contratar o suposto matador, Gonçalves denunciou "Gabiru" à polícia e, na mesma noite, seu barraco foi alvejado por balas. Hoje, dois de seus cinco filhos estão presos, suspeitos de integrar o grupo de extermínio, e ele está foragido.
Sua mulher, Judith Gonçalves, 41, continua no barraco com três filhos e dois netos pequenos e para sobreviver colocou à venda um terreno, uma enceradeira e uma televisão perfurada de bala.

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