São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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Jovens protagonizam violência no futebol

ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sérgio Francisquini, 19, corintiano; Sérgio Câmara de Oliveira, 16, flamenguista; Wagner Soares da Silva, 23, palmeirense; Neldo Ribeiro de Abreu, 17, são-paulino.
Filhos da classe média que, apesar de times diferentes, tinham em comum a paixão pelo futebol. Agora estão mortos, vítimas da violência nas torcidas.
Dados das torcidas revelam que cerca de 80% do público dos estádios é composto de pessoas com idades entre 14 e 20 anos. É nessa mesma faixa etária que mais cresce o número de novos associados às organizadas.
São justamente essas agremiações que concentram os piores casos de violência relacionada ao futebol. Foi o que aconteceu em Santo André, na sede do ABC da torcida organizada palmeirense Mancha Verde.
No dia 28 de outubro, os primos Rosivaldo Gueiros de Barros, 25, e Manuel Damião Souto, 21, foram comprar ingressos para o jogo São Paulo x Palmeiras. Os dois rapazes foram espancados com chutes, socos e pedaços de canos e tacos de bilhar. Tiveram a descarga da privada puxada sobre suas cabeças. O motivo da barbárie foi o fato de Manuel usar, sob o moletom, uma camisa do São Paulo.
"Sentir raiva é normal, mas bater até quase matar é anormalidade. Essas pessoas precisam de tratamento", afirma a professora de Psicologia Clínica da USP Tânia Tofolo.
A menor C.S.C., 17, e os menores E.D.N, 12, D.C.O., 17, e E.P.S, 14, são acusados de participar do espancamento (leia entrevistas nesta página).
São pessoas comuns, estudam ou trabalham, saem com os amigos, namoram. Gostam de música e novela. "Esses dados não garantem que sejam normais. Quem não consegue controlar os impulsos violentos não é uma pessoa sadia", diz a professora Tânia.
Na semana passada, E.D.N., acusado de dar golpes de canos em seus "inimigos", brincava na rua junto com outros meninos do bairro e foi proibido pela mãe de falar à Folha. "Eu não poderia amarrá-lo ao pé da mesa. Não posso fazer nada", disse a mãe, que não quis se identificar.
Para Tânia, há também o problema social da falta de pespectivas. Para ela, "o brasileiro vive em uma sociedade em que existe muita frustração e falta de perspectivas, o que pode levar a atos violentos. Não é só miséria material".
"Esses jovens precisam arrumar inimigos para auto-afirmar uma superioridade fantasiosa. No meio da torcida eles encontram identidade", afirma a professora.
A escalada da violência começou em janeiro (veja quadro abaixo). Até a polícia, que registrou uma média de 178 ocorrências mensais nos estádios, teme as torcidas organizadas.
O 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar prevê um aumento de 26,5% das ocorrências policiais em estádios neste ano, em relação a 1993.
LEIA MAIS
Sobre a violência nos estádios à pág. 3.

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