São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994 |
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Public Enemy combate geração 'gangsta'
MARCEL PLASSE
Grupo: Public Enemy Gravadora: Def Jam/PolyGram Preço: R$ 18,00 (o CD, em média) Public Enemy costumava aterrorizar a mídia por sua associação com a Nação do Islã e o grupo de militantes negros (dos anos 60) Panteras Negras. Mas sua capacidade de gerar polêmica perdeu força com o fim da década de 80, diante da violenta ascensão do "gangsta rap". Sinal dos tempos: em seu quinto LP, "Muse Sick-N-Hour Mess Age", Public Enemy se encontra alinhado com a mídia que costumava combater, num ataque à violência glorificada pelo "gangsta". O grupo ficou três anos sem lançar músicas novas (o disco de entressafra, "The Greatest Misses", só trazia remixes e sobras), período em que o "gangsta rap" ascendeu não apenas por sua postura alarmante, mas no mercado, como a voz principal do hip-hop. Não faltou quem desse a carreira de Chuck D, Flavor Flav e Terminator X por encerrada. Os incidentes envolvendo Flavor, em 1993, confirmavam boatos sobre o fim do grupo. Sua prisão, após disparar contra um vizinho, e posterior desintoxicação na Betty Ford Clinic, contradizia tudo o que o grupo sempre pregou: não à matança de negros e às drogas. O inferno de Flavor acabou dando foco ao novo disco. A música "So Watcha Gonna Do Now?" diz tudo: "Todo mundo está falando como gangster e atirando dos carros... Pá-pum e outro desastre no bairro... Armas, drogas e dinheiro. O que você vai fazer a respeito?... 'O único negro bom é o negro morto', eles costumavam dizer. Sabe o que isso significa?" A conclusão segue uma lógica assassina: "Se um negro mata um branco, é homicídio em primeiro grau. Se um branco mata um negro, é legítima defesa. Agora, se um negro mata outro negro, é apenas mais um negro morto". O tema não é novo no hip-hop. No final dos 80, o rapper KRS-One liderou um movimento, com a participação do Public Enemy, chamado "Stop the Violence". Chuck D e KRS-One costumam explicar, em raps, que negros não possuem indústrias de armas, plantações de drogas ou fábricas de bebidas. A questão é didaticamente apresentada na capa de "Muse Sick-N-Hour Mess Age", onde uma caveira com fones no ouvido e baseado na boca aponta uma arma contra a própria cabeça. A sua frente, estão duas garrafas de bebidas, um código de leis e um pacote de drogas. Ao fundo, um mascarado da Ku Klux Klan e um branco, de terno e gravata, rindo de satisfação. Como nos discos anteriores do Public Enemy, o tema é amarrado com visões do apocalipse. O LP começa anunciando que o ano é 1999 e ex-líderes da Ku Klux Klan estão no poder. Para impedir a materialização desse cenário, a mudança precisa se dar em 1994. A produção do grupo Bomb Squad (parte da equipe permanente do Public Enemy) traz mudanças no ataque sonoro. Foram-se os "scratches" guinchantes, a característica mais imitada do grupo nos anos 80. Em compensação, as colagens de vozes ficaram mais sofisticas, misturando palavrões, tiros e gritos de filmes de gângsteres com noticiários sobre o crime. A batida foi desacelerada. "Muse Sick-N-Hour Mess Age" tem o ritmo chapado dos discos de "gangsta" da Califórnia –e tantos tiros quanto. É o álbum mais funk do Public Enemy -reggae e jazz também surgem, em menores medidas-, com direito à coro de salão de baile. Chega a ser inesperadamente dançante, levando em conta o terrorismo dos samples caóticos e as balas perdidas. Trechos de letras de James Brown, Rick James, Bob Marley, Janis Joplin e Beatles surgem, entre uma dezena de citações, na boca dos rappers, ao lado de samples de Funkadelic e funks obscuros. A versão eletrificada do hino americano, tocada por Hendrix, tem efeito de bomba, ao fundo de um rap sobre a "terra da liberdade, lar dos bravos e inferno para nós, pretos escravos." O lançamento de "Muse Sick-N-Hour Mess Age", simultaneamente ao segundo LP solo de Terminator X (o ótimo "Super Bad"), mostra que Public Enemy ainda está longe da aposentadoria, apesar de todo o tempo de serviço prestado ao hip-hop. (MP) Texto Anterior: Gravadoras apostam na popularidade do hip-hop Próximo Texto: Hip-hop e jazz fazem coro contra a Aids Índice |
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