São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Como água para chocolate

JOSÉ DE FILIPPI JR.

Como água para chocolate, o PT é fundamental para a democracia no país. Não há um crítico do partido, dos diversos setores, que não verbalize a importância estratégica do Partido dos Trabalhadores nesta fase histórica de construção da democracia, da revolução ética e da cidadania brasileiras. Seja como oposição parlamentar, seja nas lutas sociais e como governo, o PT é radicalmente sério.
E foi assim que o partido se envolveu durante duas semanas em debates e avaliações internas para decidir e indicar o seu voto a Mário Covas para o governo do Estado de São Paulo.
Não foi uma decisão unânime, todos já sabem, mas foi um momento importante porque mostrou a nossa saudável pluralidade de opiniões –o que nos torna cada vez mais partido– e porque contribuímos com o Brasil, ensinando e, principalmente, aprendendo a fortalecer a democracia brasileira.
Deste processo, sem dúvida, todos devem participar, os trabalhadores, os partidos, a imprensa e as instituições, mesmo porque a nossa "pequena democracia" ainda padece de graves defeitos: critérios injustos de representação, abuso do poder econômico, veículos de comunicação concentrados em poucas mãos, lei eleitoral que frustra o debate, a exposição de idéias e propostas, partidos fracos e sem representatividade e fisiologismo generalizado nos parlamentos.
Nesse sentido, o PT, em seu encontro, mostrou maturidade em sua decisão, porque entendeu que a regra do segundo turno constitui uma equação com inúmeras variáveis que propicia um aprendizado condensado de tática político-eleitoral.
Não foi fácil para ninguém indicar o voto ao partido que nos derrotou a nível nacional. Mas com a grandeza e discernimento de companheiros como José Dirceu, nosso candidato ao governo paulista no primeiro turno, foi possível tornar o encontro rico e estimulante.
O resultado dependeu da atuação de José Dirceu, que não se escondeu e nem se utilizou de posição emocional. Defendeu o voto em Covas para evitarmos a chegada de um "Indiana Jones" ao poder, através de sua "Santa Cruzada".
Na última quinta-feira, os prefeitos do PT que governam dez municípios no Estado de São Paulo receberam Mário Covas, em reunião em Diadema, cidade onde sou prefeito, para discutir, pragmaticamente, o nosso apoio a sua candidatura neste segundo turno da eleição ao governo estadual.
A nossa posição é a mesma que indicou o partido: não admitimos mais um governo em São Paulo que não tenha uma definição de políticas para as áreas sociais, como educação, saúde, moradia, com substancial aumento de verbas para estas áreas; não concordamos com a aposta na falência dos bancos estaduais, como a Nossa Caixa e o Banespa; queremos a melhoria dos serviços públicos, com a necessária recuperação do poder aquisitivo dos servidores; não aceitamos o sucateamento ou privatizações das estatais paulistas; não admitimos discriminações das prefeituras; queremos tratamento democrático aos movimentos sociais, particularmente os sindicatos do funcionalismo público e com os movimentos populares que têm relação direta com as políticas do governo e, por fim, queremos definição de uma política fundiária, que aponte para o equacionamento dos graves problemas existentes no Estado.
O PT decidiu, em seu encontro, e aqui quero reiterar, que não vai participar de um eventual governo do PSDB/PFL.
A estrela do PT continuará com o seu próprio brilho, fazendo uma oposição séria ao futuro governo. Continuará discutindo as suas propostas de mudanças com todos aqueles que acreditam num país melhor.
E é justamente por isto, não tenho dúvida, que a atuação do PT é essencial para o Brasil, como água para chocolate.

Próximo Texto: O progresso de Osasco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.