São Paulo, segunda-feira, 14 de novembro de 1994
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O progresso de Osasco

CELSO GIGLIO

Escrevo nos calcanhares do segundo turno. E o faço pelo dever de análise que a mim se impõe, enquanto prefeito de Osasco (SP), sobre as opções postas para o eleitorado paulista amanhã, 15 de novembro.
Digo-me à vontade, já que a minha circunstância me confere independência para opinar, é verdade, mas sobretudo, para depor.
Como todo humano, tenho atrás de mim uma história, que quero resgatar.
Nos tempos da revolução, militei nas trincheiras da oposição, dando o meu concurso aos que se organizaram na resistência democrática.
Defendi, nos quadros do velho MDB, partido ao qual fui filiado, o primado do Direito e da Justiça, que não se conciliavam com o autoritarismo vigente.
Mais tarde, com a ruptura do bipartidarismo, acompanhei, muito de perto, com vista a uma opção nova, a disputa da legenda do Partido Trabalhista Brasileiro entre Leonel Brizola e Ivete Vargas, vitoriosa esta pelas instâncias do Tribunal Superior Eleitoral.
Pela vertente do vencido, nasceu o Partido Democrático Trabalhista, pelo qual concorri à Prefeitura de Osasco em 1982.
Anoto que a minha inclinação não se deu por acaso, senão pela visão social-democrata que orientou a minha escolha. O mundo já ensaiava opções novas, que haveriam de abandonar as soluções extremadas do comunismo e do capitalismo, debuxando já, prospectivamente, a social-democracia e o neoliberalismo como eixos das correntes atuais de pensamento.
Operavam-se, ao depois, já reconquistado o Estado de Direito democrático, transformações na correlação interna das forças atuantes no município de Osasco, a partir de quando data o meu encontro com Francisco Rossi.
Inaugurou-se uma relação, estimulada, de minha parte, pela compreensão de que o jogo partidário, importante, e certo, nem sempre poderia se sobrepor aos traços de eficiência dos governos.
E eu, já então mais aberto pelos caminhos de um mundo novo, refleti, para a consolidação de uma aliança, na capacidade de trabalho de minha parceria surgente, bem assim de sua eficiência no trato da administração pública.
Quem conheceu Osasco de cinco lustros atrás, como conheci, servindo, como médico, à comunidade no modesto barracão do Samdu, pode hoje, por dever de justiça, sem desmerecer outros prefeitos, dar o testemunho e comemorar o progresso experimentado pela cidade nas duas administrações de Francisco Rossi.
Depois delas, Osasco ganhou um novo rosto, vendo-se afastada da resenha policial da grande imprensa, para ganhar a contemplação dos seus filhos e dos seus visitantes, ante uma nova fisionomia urbana e social.
Não se diga que o enfrentamento das questões emergentes em Osasco, cidade operária e periférica da megalópole paulistana, terá tido o êxito desejável, sobretudo no plano do social.
O território municipal, comprimido em apenas 66 km2, já não dispõe de manchas rurais, sendo escasso, também, o estoque de áreas para habitação.
A localização geográfica do município, à beira de importantes rodovias, da ferrovia e do tio Tietê, agudizou o adensamento de uma população pobre, que improvisou suas moradias em 123 favelas.
Havia carência de leitos hospitalares, resumindo-se o atendimento aos doentes à rede física de saúde municipal, que também recebia a legião de desesperados provinda das cidades próximas.
A rede escolar e a promoção social mais direta sofria os embargos da enorme demanda afeiçoada às características da cidade. Assim também o sistema viário e a frota de transportes coletivos.
Dentro de um quadro assim, não era de exigir-se a solução acabada dessa gama variada de problemas. Mas ninguém de boa-fé pode negar que a ação do governo de Francisco Rossi importou considerável avanço no trato dos temas prioritários que ele elegeu, do qual resultou a atenção às carências, espraiadas, praticamente, em todas as áreas objeto de um real programa de governo.
No desempenho do mandato de deputado estadual, que teve duração igual à do último biênio da administração Rossi, pelejei pela captação de recursos para Osasco, dirigidos sempre às necessidades primárias da população e da cidade.
As verbas obtidas, em parte do governo estadual, tiveram criteriosa aplicação, não me tendo sido possível festejar ainda a inauguração das obras a que foram destinadas, uma vez que não se completou sua transferência.
Essas razões todas me levaram a apoiar e a defender o nome de Francisco Rossi para o governo de São Paulo, razões essas que não se esgotam nesta exposição, porque uma outra há, recomendando, adicionalmente, a minha postura, que eu quis mais pública, através deste documento.
É que a minha ascensão à Prefeitura de Osasco, para a qual fui eleito logo no primeiro turno, teve, como decisiva mola propulsora, o prestígio e o empenho do homem que agora defendo para a chefia do Executivo estadual.
Quero cumprir, se possível modelarmente, alguns deveres: de político, de cidadão e de companheiro, orientando-me, nesse caso, o preito de justiça, como o gesto de decência e de lealdade.
Sem decair do respeito ao ilustre contendor, incorporei-me, determinado e na primeira hora, nessa cruzada que caminha, com Rossi, rumo ao Bandeirantes.

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