São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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País terá crescimento moderado em 95

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Eis o cenário econômico para 1995, se o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso mantiver, como é provável, o Plano Real: crescimento moderado, juros altos, dólar barato e flutuando, maior abertura ao exterior e desindexação.
Essa avaliação foi obtida pela Folha a partir de conversas com principais membros da equipe econômica.
O crescimento será moderado por dois motivos. Primeiro, porque 1995 será um ano de reformas e ajuste no setor público federal e estadual. Isso tende a contrair a economia, já que os governos, endividados, investem menos.
O segundo motivo é a busca da estabilidade. Atividade econômica acelerada significa pressão por aumento de preço, situação que a equipe pretende evitar.
A equipe acha que a economia continua muito aquecida, mesmo depois do pacote anti-consumo. Ou seja, ao contrário do que tem dito o ministro Ciro Gomes, a equipe não tem planos de suspensão das restrições ao consumo.
Também não há expectativa de recessão, dado o dinamismo da economia. A probabilidade é de um crescimento de 3% a 4%.
Em sua visita a Buenos Aires, no dia 3 passado, Fernando Henrique havia dito que 7% era a taxa mínima que a economia precisaria crescer para que o país pudesse "enfrentar a pobreza e as desigualdades regionais".
A taxa de juros continuará alta. As contas públicas continuam estruturalmente desequilibradas, de modo que o governo ainda precisa colocar papéis de curtíssimo prazo para se financiar.
Para ter compradores desses papéis, o governo precisa oferecer juros altos. Se forem baixos, o dinheiro hoje retido em aplicações migraria para os chamados ativos reais (imóveis, ouro, dólar, o que for), provocando uma corrida inflacionária.
Assim, enquanto se empenha em aprofundar a reforma do setor público ao longo de 1995, a equipe se precavém mantendo os juros altos e a atividade econômica contida.
Nesse cenário, não há perspectiva de mudança na política cambial. O dólar barato e flutuando, com reduzida intervenção do Banco Central, se encaixa perfeitamente no atual plano.
Ele estimula as importações, objetivo essencial do plano. Os importados, como diz um dos mais importantes membros da equipe, Edmar Bacha, "contestam" a indústria local.
Por exemplo: se protegida contra importações, ou por barreiras ou pelo dólar muito caro, a indústria brasileira não teria por que se opor a reajustes salariais indexados mensalmente. Bastaria conceder o reajuste e repassá-lo aos preços, refazendo inflação.
O importado "contesta" essa situação, faz a indústria recusar uma indexação que pode significar perda de mercado. Além disso, o aumento de produtos importados no mercado local é um "choque de oferta", necessário para equilibrar o aquecimento do consumo.
A equipe acha que a cotação do dólar vai subir, mas lentamente, na medida em que a economia importar mais.
Toda esta política será reforçada com o início de uma ampla desindexação. O objetivo é eliminar, ao longo de 1995, os principais indexadores vigentes, IPC-r, TR e Ufir.
Com a desindexação, será possível avançar na livre conversibilidade do real –isto é, liberalizar cada vez mais o câmbio, facilitando negócios com moeda estrangeira.
A política econômica desenhada nesse cenário será mantida enquanto se promovem as grandes reformas estruturais, que exigem mudanças na Constituição.
Essas reformas buscam recuperar o equilíbrio financeiro do setor público (incluindo privatização e saneamento das grandes dívidas) e modernizar a economia.
Trata-se de reduzir o custo do investimento privado no Brasil. Isso vai desde desde reformas legais para diminuir a carga tributária, inclusive sobre folha de salários, até ações para melhorar a infra-estrutura.
Encaminhadas as reformas de modo irreversível, então os juros cairão, o dólar encontrará um nível adequado, podendo ser livremente transacionado, e a economia poderá decolar no segundo ano do governo FHC. É a avaliação, ou sonho, da equipe.

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