São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Nova droga pode reduzir os surtos de esclerose

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 23/11/94

A foto que ilustra este texto, em alguns exemplares, mostra Cátia Cilene Martins e Roberto Kam e não Viviane Barnebé e Roberto Kam como saiu na legenda.
Nova droga pode reduzir os surtos de esclerose
Uma nova medicação –o interferon beta– está obtendo resultados positivos no tratamento da esclerose múltipla –uma doença que evolui em surtos e pode levar a limitações físicas.
Na maioria dos casos, a doença se manifesta pela primeira vez ao redor dos 30 anos. A evolução é lenta e a pessoa pode passar várias décadas sem novos surtos.
Dagoberto Callegaro, coordenador do ambulatório de esclerose múltipla do Hospital das Clínicas da USP, explica que os sucessivos surtos deixam sequelas.
As mais comuns são fraqueza nas pernas e braços, alteração da sensibilidade, formigamentos, dificuldade de coordenação motora, problemas visuais e falta de controle urinário.
A causa da esclerose múltipla ainda é desconhecida. Suspeita-se da combinação de uma predisposição genética com fatores ambientais (infecções por vírus, dieta ou radiação).
O sistema imunológico dos doentes passa a produzir anticorpos que atacam a mielina -substância que envolve as fibras nervosas (veja quadro abaixo).
A destruição da mielina leva à formação de placas que alteram o funcionamento do sistema nervoso central.
Os tratamentos empregados para a doença têm resultados limitados. Não existe cura e nem todos pacientes apresentam resposta aos medicamentos.
Uma pesquisa recente realizada nos EUA testou o interferon em 372 pacientes divididos em dois grupos por três anos.
O resultado levou o FDA (órgão que controla as medicações) a recomendar a aprovação da droga para estudos clínicos mais amplos.
O primeiro grupo recebeu interferon beta e o outro recebeu um placebo (substância sem efeito).
O estudo foi duplo cego (nem os pacientes sabiam o que estavam recebendo e nem os médicos sabiam o que estavam aplicando). Só outros pesquisadores tinham acesso a esses dados.
Depois dos testes, os pacientes foram examinados através da ressonância magnética (exame permite visualizar as placas de mielina).
A avaliação das estatísticas mostrou resultados favoráveis. O grupo que recebeu interferon reduziu os surtos anuais e teve menor formação de placas.
"É importante ressaltar que o interferon não cura", afirma Callegaro. Ele só protege a mielina da ação do sistema imunológico.
Não há eliminação ou recuperação das placas e das sequelas que já haviam se estabelecido. Os melhores resultados acontecem em pacientes que estão no início da doença ou têm poucas sequelas.
O medicamento também pode reduzir o número de surtos. Um outro resultado do estudo revelou que 75% dos pacientes tratados com o remédio tiveram pelo menos um surto em 24 meses.

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