São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994
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Disco traz letras diretas e impulso popularesco

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

"Maracatus, Batuques e Ladeiras" não é o melhor disco de Alceu Valença. As canções não têm a força poética de similares passadas. O coco elétrico, inventado pelo músico, aparece em menor número, perdendo para outros ritmos. A inclinação é mais popularesca, as letras perderam parte de sua carga surreal. O músico se repete, volta a velhas estruturas e achados.
Mesmo assim, o CD vale pela inquietação. Ao buscar outros ritmos, Alceu aponta para uma possível aproximação com o mangue-beat, gênero cujos protagonistas o desprezam.
Para marcar o contato com o tradicionalismo, há duas músicas de compositores mais velhos: "Valores do Passado", uma bela marcha de Edgar de Moraes, lançada nos anos 40, e "Diabo Louro", um frevo de J. Michiles.
"Paixão" remete aos momentos mais brilhantes do compositor, principalmente nos anos 70. As escalas modais nordestinas se deixam percorrer por guitarras pesadas num equilíbrio difícil de ser atingido.
As canções lentas são as mais acessíveis. "Ladeiras", "Amor que Vai" e "Pétalas" podem grudar no ouvido popular pela facilidade melódica e letras diretas.
"Embolada" e "Pra Clarear" renovam o conteúdo rítmico do maracatu. As guitarras tomam posse da tradição e criam outra, igualmente nordestina.
Alceu Valença, no entanto, se furta de se enveredar de modo mais radical pela experimentação do material sonoro e poético. É um talento intuitivo que peca por não se atrever. (LAG)

Disco: Maracatus, Batuques e Ladeiras
Cantor: Alceu Valença
Produção: Paulo Rafael e José Milton
Direção: Alceu Valença
Lançamento: BMG Ariola
Quanto: R$ 18 (o CD, em média)

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