São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 1994 |
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Paris Filmes co-produz novo 'Cangaceiro'
INÁCIO ARAUJO
É a primeira tentativa de pôr fim ao divórcio completo que existe entre as duas categorias –exibidores e produtores– desde o ínicio dos anos 80. O plano da Paris Filmes é investir R$ 1 milhão nos dois filmes, estabelecendo uma clara divisão de trabalho. "O produto fica por conta de Aníbal Massaini, da Cinedistri. A Paris se encarrega dos setores de marketing, publicidade, exibição e vendas", diz Marcio Fraccaroli, diretor de marketing da Paris Filmes. A parceria se apóia na Lei do Audiovisual, que prevê um imposto de 25% sobre a remessa ao exterior pela compra ou lucros de filmes estrangeiros exibidos no Brasil. Como a Paris é também uma distribuidora (ou seja, compra produtos no exterior), vai investir nos dois filmes o dinheiro retido pelo governo. "O Cangaceiro" é uma operação mais complexa. Envolve pesquisas de mercado (referentes à busca de um herói brasileiro, de uma tendência internacional –o retorno do faroeste nos EUA– e mesmo da afluência de figuras femininas nesse gênero de filme –Maria Bonita, a mulher de Lampião, seria o "pendant" das garotas que atualmente despontam como estrelas de "westerns". "Nós vamos buscar o público para este filme", resume Fraccaroli. Para ele, o essencial é que a sua empresa obtenha dois sucessos de bilheteria e aumente a participação no mercado (um cálculo preliminar julga que seria possível chegar a 1 milhão de espectadores com "O Cangaceiro" e 400 mil com "As Feras"). Para Aníbal Massaini, trata-se de garantir de imediato um circuito exibidor de peso, driblando a situação desfarovável dos filmes brasileiros em relação aos norte-americanos junto ao circuito. Ao mesmo tempo, passa a contar com o "'know how" da Paris no setor de distribuição e exibição (ela é considerada atualmente a maior distribuidora independente). No momento, existem outras produções se articulando em função da Lei do Audiovisual, como "Tieta", de Carlos Diegues, com a UIP. A diferença, no caso, é que a UIP é uma empresa estrangeira, com uma rede de salas de menor peso que a Paris (mas poder de fogo bem maior, no exterior). O principal da ligação Cinedistri/Paris, segundo Fraccaroli, é a possibilidade de "acabar com a separação entre quem faz e quem exibe". É uma história de conflitos que começou nos anos 60, quando foi criada a cota de obrigatoriedade para filmes brasileiros. Apesar das divergências, os exibidores funcionaram até o início dos anos 80 como co-produtores de filmes brasileiros (em particular pornochanchadas). Ficavam com um produto popular na mão e ganhavam nas duas pontas (como donos das salas e dos filmes). Com o fim da pornochanchada (no início dos 80), da cota de obrigatoriedade (através de uma série de liminares obtidas na Justiça) e a extinção da Embrafilme (em março de 1990), as relações entre exibidores e produtores mudaram. Sem obrigatoriedade e sem nenhum incentivo para participarem de filmes brasileiros, os exibidores retraíram-se. Os poucos filmes brasileiros tinham possibilidades restritas no mercado (em São Paulo, são exibidos quase exclusivamente pelo Espaço Banco Nacional e pelo Cinesesc). Essa distância entre os vários setores da atividade é que agora pode começar a diminuir. Texto Anterior: "Não há ilegalidade" Próximo Texto: Feira reúne 12 mil livros portugueses Índice |
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