São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Morador denuncia prisão ilegal

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Moradores do morro da Mangueira foram ontem à Polinter (Divisão de Capturas e Polícia Interestadual) denunciar ilegalidade na prisão de dois dirigentes da Associação de Moradores do Chalé.
O presidente da associação e ex-diretor de bateria da Mangueira, Ubiraci de Oliveira, o Bira, 39, e o vice-presidente Antônio Rodrigues da Costa foram detidos pelo Exército durante blitz no sábado e levados para a Polinter.
Eles têm prisão decretada pelo prazo de 30 dias por "indício de participação em quadrilha armada para o tráfico de entorpecentes".
Foram presos quando os soldados encontraram uma lata com R$ 8.535,00 no barracão da associação. Oliveira e Costa não souberam explicar a origem do dinheiro.
O advogado de Oliveira, Marino D'Icarahy Júnior, diz que os soldados não tinham mandado de prisão. "Os mandados foram expedidos depois, com data retroativa. A prisão é ilegal", afirmou.
Os mandados estão assinados pelo juiz Bernardo Garcez Neto –um dos juízes à disposição do Comando Militar do Leste (CML)–, com data de 19 de novembro (sábado).
Maria Barbosa, vizinha de Bira, viu quando os dois foram presos. Ela disse que os soldados não mostraram os mandados de prisão.
D'Icarahy vai entrar com habeas corpus para tentar soltar Oliveira e Costa. A comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores do Rio levou o caso ontem ao CML, mas não obteve resultados.
A DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) disse que Oliveira não tem antecedentes criminais, mas que ficará preso até a DRE apurar as acusações contra ele.
Outras 13 pessoas foram presas na operação na Mangueira –cinco em flagrante. Contra as outras há mandado de prisão temporário.
Oliveira é funcionário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) há cerca de 15 anos.
Zica da Mangueira, 82, viúva do compositor Cartola, foi visitar Oliveira na cela. "Vi ele nascer. Ele é do samba, não é do tráfico", afirmou. Zica só fez um comentário sobre a ação do Exército no Rio: "eles têm que procurar alguma coisa para fazer, né?"

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