São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Importados encalham em Cumbica

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O terminal de carga do aeroporto de Cumbica, onde desembarcam 400 toneladas de produtos importados por dia, já se assemelha a um acampamento de guerra. Segundo a Receita Federal, cerca de 6.000 toneladas de produtos estão espalhados pelo pátio. Não há solução à vista.
Na quinta-feira, buscando uma solução de emergência, a Receita baixou a Instrução Normativa 88, permitindo que mercadorias em trânsito fossem transferidas imediatamente para armazéns alfandegados fora do aeroporto.
A medida, até agora, foi inócua, porque a instrução não está regulamentada. A regulamentação pode demorar 20 dias, prazo dado à comissão técnica constituída anteontem, para estudar o assunto.
Enquanto isso, o aeroporto vive um caos. O presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros, Valdir Santos, afirmou à Folha que há pelo menos 2.000 volumes de carga desaparecidos dentro do terminal, que nem os funcionários, nem os próprios despachantes, conseguem localizar.
Ao ser questionado se o quadro pode se agravar com encomendas do comércio para o Natal, o inspetor da Receita, responsável pela alfândega em Cumbica, afirmou que "já está tudo tão enrolado, que vai ser difícil piorar".
O inspetor diz que a responsabilidade pelo problema é da Infraero porque quando os produtos são identificados e retirados do pátio, a alfândega libera as mercadorias para os importadores em menos de dois dias. Desde o início do mês, a Receita colocou fiscais em plantão 24 horas por dia.
A reportagem da Folha tenta, há dois dias, falar com a direção da Infraero no aeroporto. A assessoria de imprensa da Infraero atribui o problema ao crescimento de 30% das importações.
Santos, do sindicato dos despachantes, diz que o congestionamento do terminal de cargas começou no final do ano passado e foi agravada depois do Plano Real.
Segundo ele, entre os 2.000 volumes de cargas que não são localizados estão sobretudo autopeças e produtos químicos.
Ontem, funcionários da trading Intermachine procuravam um carregamento de 400 quilos de eletrodos para os robôs da indústria automobilística. O carregamento foi desembarcado em 30 de outubro e até o final da tarde de ontem não tinha sido localizado.
O sindicato dos despachantes aconselha os importadores a trazerem produtos por navios, porque o desembaraço em Cumbica está levando 15 dias em média e durante todo este tempo o importador paga a armazenagem.
Malba Pinho, gerente da Canadian AirCargo, diz que as companhias aéreas estão preocupadas porque os funcionários da Infraero estão classificando a maior parte das mercadorias como avariadas, quando elas são retiradas do pátio.
Segundo Valdir Santos, os funcionários classificam as mercadorias como avariadas para se eximirem de responsabilidade. Até um cavalo de corrida, importado há 15 dias da Inglaterra, foi classificado como mercadoria avariada.

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