São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994 |
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Autor não se livrou da influência
DANIEL PIZA
Mas não espere dos romances de Burgess a mesma complexidade, em termos de sintaxe e referências filosóficas, dos de Joyce. Ainda assim, nesse estilo "Joyce diluído", Burgess perpetrou livros de alta qualidade literária, como os citados acima. Uma de suas características centrais, também presente em Joyce, é o humor, tingido por conservadorismo político e religioso (também como Joyce, era católico na essência, ainda que não na prática). Nascido em Manchester, Burgess era filho de pais pobres. Autodidata, jornalista, músico e poliglota, se tornou escritor por necessidade vital –ou letal: em 1956, foi-lhe diagnosticado um câncer e previsto um ano de vida. Nesse período, para deixar alguma herança para a mulher, escreveu nada menos que cinco romances. Excesso sempre foi um vocábulo de seu dia-a-dia. Tomava uma garrafa de uísque diária, às vezes acompanhada de outra de gim, e brigava com a mulher o tempo todo. Viveu sempre em instabilidade emocional intensa. Também não dava sorte. Grávida, sua mulher foi espancada por jovens desocupados –fato que expurgou em "A Laranja Mecânica", filmado por Stanley Kubrick. E queria criar o romance perfeito: "Com a complexidade de Shakespeare e a fluência de Ian Fleming" (criador de James Bond). Mas não conseguiu. Por pouco. (DP) Texto Anterior: Anthony Burgess descreve Joyce tradicional Próximo Texto: Óperas da RCA guardam heroísmo estereofônico da década de 50 Índice |
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