São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 1994
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Óperas da RCA guardam heroísmo estereofônico da década de 50

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A gravadora BMG Ariola lança um pacote de cinco óperas italianas em CD. As gravações datam dos anos 50 e 60 e integram o arquivo da RCA Victor, companhia norte-americana comprada nos anos 80 pela alemã BMG.
Os discos mostram algumas das primeiras experiências com gravações estereofônicas de ópera em estúdio, agora remasterizadas digitalmente. No comando da mesa de som estava o produtor norte-americano Richard Mohr, um precursor das tomadas de som espaciais, que consideram os pontos dramáticos de emissão sonora.
Os títulos contêm duas obras de Verdi, duas de Puccini e uma de Rossini. À exceção de uma, todas têm a direção musical do maestro vienense Erich Leinsdorf, à frente de várias orquestras.
Um atrativo a mais: as leituras de Leinsdorf são pós-românticas, fora de moda e típicas das montagens do Metropolitan Opera House de Nova York e da Ópera de Roma em meados do século.
"O Barbeiro de Sevilha", de Rossini, traz o barítono Robert Merrill no papel de Fígaro e a soprano Roberta Peters como Rosina. A orquestra é do Metropolitan.
"Tosca", de Puccini, tem como atração o tenor sueco Jussi Bjõrling (1911-1960) como Cavadarossi.
A soprano norte-americana Anna Moffo, 59, exibe alto virtuosismo em "Madama Butterfly", de Puccini, com a Ópera de Roma, e "La Traviata", de Verdi –a única do pacote regida por Fernando Previtali em 1960.
"Un Ballo in Maschera", de Verdi, é interpretada pela soprano norte-americana Leontyne Price (uma das primeiras divas negras) com Amélia e o tenor italiano Carlo Bergonzi como Riccardo.
Um sexto título integra o catálogo da RCA dos anos 70 e também está sendo comercializado. Trata-se de "Il Trovatore", de Verdi, com Leontyne Price, a mezzo Fiorenza Cossotto e o tenor espanhol Plácido Domingo em início de carreira. A gravação foi realizada em Londres, em agosto de 1969, com regência de Zubin Mehta. Mais uma vez, Mohr chefiava o estúdio.
Até o advento da estereofonia, as óperas eram gravadas em estúdio diretamente no microfone. Assim, as vozes ficavam no mesmo plano, sem diferenças teatrais.
Nos anos 30 e 40, os registros ao vivo, feitos no palco de casas de ópera como a de Viena e Milão, conservavam a teatralidade, mas com má qualidade sonora. Não havia equalização e o som saía bruto.
Com a tecnologia a seu favor, Mohr buscou a cenografia do som e fez com que as gravações de estúdio superassem as de palco.
Nessas tomadas, as vozes foram colocadas em posições variadas em relação ao microfone. Elas se deslocam e atravessam o espectro sonoro, enquanto a orquestra se coloca como interventora dramática constante, assomando à cena.
Em certas árias de bravura, como "Sempre Libera", de "La Traviata", o ouvinte tem a impressão de que Moffo anda de um lado para outro do palco. Bergonzi chega a produzir um som de surdina, como se usasse máscara real.
Quando Zinka Milanov salta para a morte no pêlo de Tosca, sua voz se distancia como em ponto de fuga. Esses instantes justificam a presença da tecnologia. A estereofonia libertou os cantores do palco.

Discos: La Traviata, Un Ballo in Maschera, Tosca, Madama Butterfly, O Barbeiro de Sevilha e Il Trovatore
Quanto: R$ 20,00 (o CD, em média)

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