São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mortes expõem confronto entre palestinos

JOHN WEST
DA REUTER

Para a família de Ahmed Abu Kirsh, 16, morto sexta-feira passada num confronto com a polícia palestina, já foi um choque quando um jornal de Jerusalém disse que o rapaz apoiava o grupo Fatah, de Iasser Arafat.
Mas dois dias depois, quando um primo distante sabidamente próximo a Arafat foi ao velório e ofereceu à família US$ 1.000 para que negasse a filiação de Ahmed ao grupo radical Hamas, quase houve derramamento de sangue. Enfurecida, a família, que apóia o Hamas, mandou o primo embora.
Mataram Ahmed e depois tentaram comprar seu sangue, disse seu irmão Ayman. Disseram que ele era da Fatah, mas ele nunca foi nada além de filho da mesquita. O Hamas pagou pelo funeral.
O choque sentido por muitos residentes de Gaza com a morte de 12 pessoas, dia 18, em conflitos entre manifestantes e a polícia controlada pela Autoridade Nacional Palestina chefiada por Arafat, converteu-se em recriminações.
A OLP e a oposição se acusam mutuamente pelas mortes. Slogans da Fatah apareceram nos muros atribuindo a culpa a Israel e ao Irã. Dia 21, Arafat mobilizou 10 mil defensores da Fatah, muitos deles armados, que juraram esmagar a conspiração e os conspiradores.
Segundo testemunhas, tanto o Hamas quanto a Fatah estão pressionando as famílias a dizerem que os mortos eram seus militantes.
O Hamas quer que Arafat assuma a culpa pelo que chama de "massacre". A OLP acusa "agitadores", cujos nomes não cita, de terem atirado contra a polícia.
Integrantes da Autoridade Palestina afirmaram que um policial foi morto e que oito dos doze mortos pertenciam à Fatah –prova circunstancial contundente de uma conspiração externa, segundo eles.
Mas as imagens de vídeo e depoimentos de testemunhas e parentes lançam dúvidas sobre essa versão. Entrevistas com as famílias dos 12 mortos revelaram que apenas um deles, Alam al Nakhala, era defensor ativo da Fatah; oito eram militantes ou simpatizantes de grupos oposicionistas.
Três eram militantes do Hamas, um da Jihad Islâmica, um da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e um da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP).
Duas famílias disseram que seus mortos eram simpatizantes do Hamas e dois outros foram descritos por familiares como não-alinhados politicamente. Apenas Mahmoud Radwan, 14, era filho de um simpatizante da Fatah.

Texto Anterior: Menem diz que houve erro
Próximo Texto: Amigos de Clinton serão indiciados por Whitewater
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.