São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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PT de Brasília recebe US$ 200 mil de empreiteira e entra em crise

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Às voltas com a escolha do seu secretariado, o governador eleito do DF (Distrito federal), Cristovam Buarque, tem, desde ontem, um problema a mais para resolver: explicar aos militantes radicais do partido por que aceitou da empreIteira Norberto Odebrecht uma doação de US$ 200 mil para a campanha.
Com uma dívida de aproximadamente US$ 100 mil, contraída no primeiro turno da disputa pelo governo do DF, o coordenador da campanha, Hélio Doyle, aceitou a doação da Odebrecht no dia 14 de novembro, um dia antes da votação do segundo turno.
A doação foi mantida em sigilo até segunda-feira passada, dia 21, quando o tesoureiro, Amauri Barros, fez uma prestação de contas durante reunião da executiva do PT-DF. A discussão interna veio a público ontem através de reportagem do jornal "Correio Braziliense".
A explicação do coordenador e do tesoureiro, de que a empreiteira recebeu os bônus correspondentes ao cheque nominal da doação, não acalmou a ala mais radical do partido. Na quinta-feira, em reunião do diretório, chegou-se a votar a expulsão de Doyle e Barros, finalmente rejeitada.
Doyle disse ontem à Folha que a "solução Odebrecht" para tapar o buraco nas contas da campanha foi achada pela Executiva Nacional do partido, mais exatamente pelo tesoureiro da campanha de Lula, Paulo Okamoto.
O governador eleito, Cristovam Buarque, só soube da doação na segunda-feira passada. Nas discussões internas, na executiva e na reunião do diretório, ele aprovou a doação e apoiou os coordenadores da sua campanha.
"Não falamos com Cristovam porque, na campanha, cada um tinha a sua função. A nós (Doyle e Amauri Barros) foi delegado o poder para coordenador o financiamento da campanha e não tínhamos que falar com o candidato sobre isso", disse Doyle.
Na reunião de quinta-feira passada, o diretório condenou a doação, mas aprovou, também, a não- devolução do dinheiro.
A condenação da doação teve três moções, todas aprovadas. Mas, na votação sobre se o dinheiro deveria ou não ser devolvido, por 14 votos a 8, e 5 abstenções, o partido resolveu ficar com o dinheiro da Odebrecht.
O diretório e a vice-governadora eleita, Arlete Sampaio concluíram que não haveria mais tempo de desfazer a operação e recolher dinheiro para concluir a prestação de contas da campanha, que terá de ser entregue ao TRE (Tribunal regional Eleitoral) até a próxima quarta-feira.

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