São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Mudanças no câmbio

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O mercado de câmbio esteve agitado na última semana. As cotações do dólar retomaram um movimento de alta, obrigando o Banco Central a vender dólares no mercado.
Esta mudança brusca no comportamento do real, após longo período de forte valorização, deve-se principalmente a dois conjuntos de fatores.
O primeiro, estrutural, diz respeito às medidas do BC para reduzir a entrada de dólares no país. A mais importante foi a restrição às operações de antecipação de contratos de câmbio de exportação.
Por meio desse mecanismo, os exportadores levantavam financiamentos no exterior a taxas reduzidas e vendiam esses dólares no mercado de câmbio. O ganho com a aplicação destes reais no mercado interno chegava a mais de 10% ao ano.
Com a restrição a estas operações, a oferta de dólares no mercado caiu, invertendo o sinal da conta comercial, que passou de largamente positiva para fortemente negativa.
A partir do dia 20 de outubro, o fechamento de câmbio de importação (compra de dólares no mercado de câmbio) superou o de exportação (venda de dólares no mercado de câmbio) em quase US$ 1 bilhão.
Uma segunda medida foi o aumento do IOF na entrada de capitais financeiros. O saldo desta conta entre os dias 20 de outubro e 24 deste mês foi de US$ 230 milhões, insuficiente para equilibrar o déficit da conta comercial.
O segundo fator que alterou o curso do real no mercado de câmbio foi de natureza de expectativa. As dificuldades de FHC na montagem de sua equipe econômica aumentaram as incertezas em relação ao futuro do regime cambial.
O nome de José Serra no rol das alternativas para o cargo de ministro da Fazenda lançou incertezas sobre a forma como a taxa de câmbio será usada como âncora nominal no processo de estabilização.
Essa insegurança gerou um processo de zeragem de posições vendidas de dólar nos mercados futuros e provocou uma alta das cotações. Apesar da atuação do Banco Central, essas tensões poderão continuar esta semana, até uma definição do comando da economia para os próximos anos.

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