São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Entrevista é a prova de fogo da seleção

DENISE CHRISPIM MARIN

O momento da entrevista é inevitável e decisivo para a conquista de um emprego –e o profissional deve estar preparado para essa prova de fogo.
Na hora H, o candidato deve se apresentar ao selecionador como um bom produto do mercado de trabalho e tentar convencê-lo de que é exatamente o perfil que a empresa precisa.
Na prática, essa situação é complicada para o candidato. Primeiro porque o processo de redução de níveis hierárquicos nas empresas colocaram na rua profissionais com melhor qualificação e extinguiram postos de trabalho.
A concorrência, portanto, se acirrou nos últimos anos e elevou o padrão de respostas esperado.
A outra dificuldade é o controle da tensão –que atrapalha o raciocínio, trava a língua e provoca esquecimentos.

Boa resposta
Consultores dizem que não existe resposta certa para uma pergunta. Mas concordam que há a mais adequada e que ela deve ser planejada -nunca decorada.
Segundo Vicky Bloch, 43, sócia da DBM do Brasil, consultoria especializada em recolocação de executivos, os candidatos a um emprego frequentemente escorregam na questão: "Fale um pouco sobre você mesmo".
"Não se quer saber onde a pessoa nasceu ou quantos filhos ela tem", diz Vicky. "O que se espera é obter um resumo semelhante ao sumário do currículo."
"É o momento do candidato dizer o que o torna interessante e adequado para o cargo disponível", completa Simon Franco, 55, presidente da consultoria Simon Franco Recursos Humanos.
Perguntas sobre o objetivo do candidato também podem gerar divagações. O ideal é expor os projetos dentro de um prazo.

A verdade
As entrevistas duram de uma hora a uma hora e meia. Não existe número fixo de perguntas. Quanto mais dúvidas sobre a experiência e as habilidades do profissional, mais questões irão surgir.
"O importante é não omitir nem mentir", afirma Guilherme Velloso, 50, diretor da PMC-Amrop International, consultoria especializada na busca de executivos para o topo das empresas.
Em geral, dados apontados pelo candidato no currículo e na entrevista –bem como outros mais subjetivos– são checados com seus antigos chefes e colegas.
Para Velloso, no entanto, o entrevistador não está ali para "jogar casca de banana" e assistir ao tombo do candidato. "É um momento de diálogo, no qual o profissional também deve perguntar sobre a empresa".

Cafezinho
Entrevistas para cargos de cúpula geralmente são marcadas em ambientes sociais.
Almoços e jantares são cenários que revelam o comportamento social do candidato e seu potencial para representar a empresa. Muitas vezes, a mulher também é convidada –e avaliada.
Robert Wong, 46, diretor-geral da Korn/Ferry International, conta que o presidente de uma multinacional criou uma situação inusitada para cinco candidatos ao posto de diretor financeiro.
Ele convidou cada executivo a se sentar na sua poltrona –um móvel que chegava a intimidar. "Alguns pareciam sumir no estofado", diz Wong.
Serviu cafezinho para cada um deles, com o cuidado de encher a xícara até a borda. Três entornaram a bebida.
Saiu-se bem aquele que logo no início compreendeu como estava sendo testado. Ele aproveitou e conduziu a entrevista.

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