São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Funcionários mais velhos são discriminados

NEIL CORNISH
DO "USA TODAY"

No dedo anular da mão direita, Steve Booth ostenta um anel de ouro quadrado com centro ovalado –símbolo da companhia DuPont. O anel era motivo de orgulho para Booth, que trabalhou 28 anos na fábrica da DuPont em Seaford, Delaware (nordeste dos EUA).
Mas tudo isso mudou no ano passado, quando Booth, 47, afirma ter se tornado vítima de discriminação etária.
"Até agora, ninguém conseguiu explicar o motivo de me mandar embora", diz o ex-funcionário que, junto com outros 24 ex-gerentes da fábrica, está processando a DuPont.
"Só abrimos o processo porque acredito que nossos direitos foram violados por sermos funcionários mais velhos."
A situação de Booth traz à tona a difícil posição de funcionários com mais de 40 anos de idade.
Para muitos, a alegada discriminação etária dificulta o processo de encontrar novos empregos. Para agravar a situação, esse tipo de discriminação costuma ser difícil de comprovar.
Segundo Karen Peterson, diretora da divisão de assuntos industriais do Departamento Estadual do Trabalho de Delaware, "esses casos e os de molestamento sexual são os dois mais difíceis de investigar".
Os funcionários com mais de 40 anos são protegidos pela Lei contra a Discriminação Etária no Trabalho. Mas as reduções nos quadros de funcionários das empresas não mostram sinais de diminuir e isso não é bom presságio para os funcionários mais velhos.
"Eu diria que a causa número um dessas demissões são os enxugamentos", diz Karen Peterson.
Frequentemente, as duas partes –empresas e funcionários– têm atritos relativos a salários, porque os funcionários com mais de 40 anos costumam ganhar mais do que seus colegas mais jovens.
"O patrão que quer economizar manda embora um funcionário mais velho", afirma a advogada Vicki A. Hagel, que representa funcionários e empresas em processos trabalhistas.
Steve Booth perdeu seu emprego de gerente na DuPont, onde ganhava US$ 65 mil anuais.
Quando pediu transferência para outra fábrica em Seaford para poder continuar no mesmo nível gerencial, ouviu que ninguém estava disposto a aceitá-lo pelo mesmo salário.
Booth teve seu salário reduzido em três níveis, caindo para a posição de primeiro supervisor de linha. Mais tarde, a empresa lhe ofereceu um acordo pelo qual sairia amigavelmente e receberia um ano de salário. Ele não aceitou.
Em setembro, a empresa ofereceu a Booth e outros funcionários a opção de passarem para um cargo de operador horista, por salário bem menor, ou se aposentarem com benefícios reduzidos.
"Concluí que não podia mais suportar aquilo", diz Booth. "A DuPont de hoje não é a mesma para a qual trabalhei no passado."
A DuPont não deu entrevista, mas na época do processo o gerente de recursos humanos em Seaford, Ben Culver, negou que houve discriminação etária, afirmando que as decisões refletiram "uma seleção baseada em qualificações".
Steve Booth conseguiu encontrar outro emprego em uma empresa de refrigeração, por metade do salário que recebia na DuPont. Mas, apesar da raiva que sente, ainda tem saudades da empresa. Por isso continua usando o anel. "Seria bom saber que ainda sou valorizado por lá."
Tradução de Clara Allain

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