São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Tribunal consegue isolar vírus da sandice

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em nenhum momento, desde o melê criado pelo Sport no Tribunal Especial da CBF, tive dúvidas sobre o resultado. Eles podem ser qualquer coisa, menos loucos.
E só um surto incontrolável de sandice coletiva levaria um tribunal a acatar o pedido do Sport. É bem verdade que o vírus andou passeando pelas veias dos primeiros torcedores cariocas –digo, juízes–, aqueles que começaram votando a favor da perda de pontos de São Paulo e Palmeiras. Mas foi controlado a tempo.
Na verdade, caso o tribunal cometesse a estultice de dar guarida ao pedido do Sport, o mal seria sanado adiante, no STJD, sem maiores prejuízos.
A propósito, há uns poucos leitores que me acham inteligente. A esses quero revelar um segredo que busco esconder, criando um jogo de cena com estas palavras enganchadas umas às outras para iludir os mais incautos. São vis truquezinhos aprendidos ao longo de quase quatro décadas de ofício, não fruto de inventiva.
Pois, na verdade, como aquele personagem rodrigueano, quero clamar publicamente: Sou uma besta! Uma besta quadrada. Melhor: uma besta ao cubo.
Prova do que digo? Aí vai: até agora não entendi como o Palmeiras, que ganhou tonelada e meia de jogos, que perdeu a invencibilidade somente outro dia, que goleou Deus e o mundo, seria desclassificado com a perda de um mísero ponto. E como o Sport, que perde rodada sim, rodada não, entraria em seu lugar?
Não, por favor, dispenso explicações. Nem adiantaria. Sou uma besta, completa, irretorquível, obra-prima de estupidez, digna de um Michelângelo moderno.
Ah, que alívio.

Resta-me, por consolo, um laivo de memória, por onde filtram-se algumas cenas de um passado mais ingênuo, nem por isso menos violento.
Lá pelos meados dos anos 50, o Pacaembu abriu-se para Portuguesa x Botafogo. Eram dois timaços, mas não chegavam a empolgar. Pois o jogo anódino, isolado numa luminosa manhã (ainda mais luminosa para as jurássicas câmeras de TV, já que o sol batia em sentido contrário), de súbito transformou-se numa batalha campal.
Não me lembro como começou, mas vejo com estes olhos o que foi negado depois pelos historiadores. Vejo até o doce Nílton Santos, o Garrincha de alma de passarinho e o único espartano-gozador da história, Djalma Santos, os três, envolvidos no tumulto, dando rasteira, cabeçada, rabo-de-arraia, socos e pontapés.
Eu disse que os 22 se envolveram? Disse-o mal, pois acrescentem-se os bancos e sei lá quem mais bordejava pelo campo. Apenas a torcida, perplexa, a tudo assistia, sentadinha, calada.
A briga (ou melhor: rixa, para seguir termos legais) só terminou quando a turma cansou, uns 15, 20 minutos depois. E o juiz simplesmente expulsou todo mundo. Até os dois bandeirinhas, que não perderam chance de dar suas casquinhas.
Isso, sim, foi tumulto generalizado.

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