São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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"Piracema" quer politizar a cultura

DA REDAÇÃO

A revista "Piracema", da Funarte (Fundação Nacional de Arte), que chega agora a seu terceiro número, é uma prova de que mesmo publicações maciçamente voltadas para temas culturais podem manifestar intenções políticas.
Apesar de sua páginas estarem repletas de reproduções de quadros e estudos sobre música e literatura, seu idealizador –o poeta Ferreira Gullar, presidente da Funarte– diz que o objetivo da revista é "criar uma imagem da cultura brasileira que contraste com nossa fama internacional de assassinos de crianças e queimadores de florestas".
Exemplo desse contraste é a matéria de capa desta edição da "Piracema": uma reportagem e um ensaio fotográfico sobre o Instituto de Manguinhos, sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio.
Concluído em 1910, o prédio é uma versão tropical da arquitetura mourisca da Espanha, um palácio exótico cujo delírio criativo está no coração de uma cidade às voltas com problemas sociais.
Além de lançar um novo olhar sobre objetos já conhecidos, a "Piracema" procura trazer ainda discussões sobre a atualidade –caso, por exemplo, do ensaio "Telenovela: Arte ou Serviço Dramático?", do jornalista Luiz Lobo.
Suas páginas também têm espaço para publicação de poemas, crítica teatral e reportagens sobre técnicas artísticas que vão do artesanato à alta tecnologia.
Dentro desse princípio editorial, a revista faz enquetes com intelectuais sobre temas contemporâneos. Neste número, há uma discussão sobre "Cultura & Mídia" –e Gullar anuncia para a próxima edição, em dezembro, uma enquete sobre o cinema brasileiro.
A publicação foi criada no final do ano e seu nome é uma referência ao fenômeno da piracema –quando os peixes nadam contra a corrente para desovarem.
"Essa imagem simboliza os intelectuais que nadam contra a corrente", diz Gullar, para quem o principal papel da "Piracema" é dar espaço à produção que não encontra espaço na grande mídia.
Segundo ele, as duas primeiras edições estão praticamente esgotadas. "Apesar de ser anticomercial, a revista tem uma linguagem jornalística, não-acadêmica", conclui.

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