São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Família domina 'boom' japonês

SUNIL KHILNANI
DO THE INDEPENDENT ON SUNDAY

Em 1970, quando Issey Miyake escolheu o local para seu primeiro desfile de moda em Tóquio, a opção evidente era a loja de departamentos Seibu, em Shibuya, recém-inaugurada por um dos dois irmãos que controlavam a fortuna da família Tsutsumi, Seiji.
No mesmo ano o escritor Yukio Mishima cometeu harakiri usando um uniforme produzido para ele por uma das empresas de Seiji Tsutsumi.
Escritor conhecido e frequentador dos círculos artísticos e intelectuais, Seiji era também um dos homens mais ricos do Japão.
O mais rico de todos era seu irmão Yoshiaki Tsutsumi. Em 1993, a revista norte-americana Forbes avaliou sua fortuna entre US$ 9 bilhões e US$ 22 bilhões.
Juntos, os dois irmãos dominavam o enorme boom japonês no setor de consumo e lazer.
Em seu livro The Brothers: The Saga of the Richest Family in Japan (Os Irmãos: a Epopéia da Família Mais Rica do Japão), a autora Leslie Downer traça uma história geral do período de atuação dos Tsutsumis e dá detalhes sobre esta ambiciosa família.
O império foi fundado pelo pai dos dois, Yasujiro Tsutsumi, nascido em 1893 numa área ao norte de Kyoto. Era um homem movido por duas paixões: mulheres e terra.
Teve pelo menos sete filhos legítimos, além de muitos outros não reconhecidos. Em 1943, Tsutsumi adquiriu a empresa ferroviária Seibu e batizou seu grupo inteiro com o mesmo nome.
Seu segundo filho, Seiji, entrou para as empresas nos anos 50. Mas, devido a sua juventude rebelde (ele ingressou no Partido Comunista e tentou estabelecer uma célula na empresa do pai) e suas ambições literárias, seu pai nunca confiou inteiramente nele e o relegou a uma decadente loja de departamentos.
Em 1960, Seiji já a transformara em sucesso retumbante. Começou a comprar alta costura em Paris, conseguindo contratos exclusivos com estilistas como Louis Féraud e Yves Saint-Laurent.
Mas era o irmão ilegítimo mais jovem, Yoshiaki, quem controlava o dinheiro, e foi para ele que Seiji pediu ajuda para abrir, nos anos 60 e 70, uma cadeia de lojas para o público jovem. Em suas lojas havia galerias que levaram ao Japão exposições de Kandinsky, Ernst, Mackintosh e arte tribal indígena.
Enquanto isso Yoshiaki construía hotéis, complexos esportivos e estádios (comprando times de beisebol para atrair os fãs), e se firmava como influência política.
Os dois irmãos ocupavam posições ideais para lucrar com o boom da década de 80. Em 1985, eles se tornaram rivais abertos, quando o grupo de Seiji, rebatizado de Saison, ingressou no ramo hoteleiro.
A recessão do início dos anos 90 atingiu Seiji em cheio, mas Yoshiaki continua progredindo. Recentemente os irmãos resolveram trabalhar em conjunto num projeto de TV por satélite. Esses milionários pioneiros independentes ainda não estão satisfeitos.
Tradução de Clara Allain

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