São Paulo, domingo, 27 de novembro de 1994
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Vigiem o queijo

JOSIAS DE SOUSA

Josias de Souza
BRASÍLIA – Estabeleceu-se na última semana uma zoopolêmica. "O governo não corre o risco de virar um balaio de gatos?", perguntou um jornalista a Antônio Carlos Magalhães.
O ex-governador baiano, hoje senador eleito, disse que não. De mais a mais, não via problemas com os gatos. O importante é que não se permitisse a entrada de ratos, acrescentou.
A imagem é boa. De fato, a base de sustentação política a Fernando Henrique transforma-se gradativamente num imenso balaio. Nele cabe de tudo, do PSDB ao PTB, passando pelo PFL, PMDB, PP...
E engana-se Antônio Carlos. No cesto tucano cabem gatos. Há muitos à volta de Fernando Henrique. Mas há espaço também para os ratos. Como que atraídos pela melodia da flauta, eles começam a se acercar do balaio.
Numa das reuniões em que planejou o futuro com seus aliados, Fernando Henrique fixou-se num número: quer ter no Congresso um exército de cerca de 350 parlamentares.
Difícil recrutar tantos deputados e senadores sem esbarrar com alguns roedores da paciência pública. Diria mesmo impossível.
A questão que se coloca agora é outra: poderia Fernando Henrique governar sem as ratazanas? Poderia o novo presidente contar apenas com os felinos? A resposta, algo trágica, é não.
O novo governo quer aprovar, nos seis primeiros meses de sua gestão, uma reforma constitucional. Precisará de três quintos do Congresso para votar cada emenda. Daí o número de 350.
Fernando Henrique tentará, a partir desta semana, ampliar ainda mais o diâmetro de seu balaio. Parece convencido de que terá de atrair também o PPR, com seus gatos e ratos.
Diante da inevitabilidade do convívio, resta ao novo presidente zelar para que os gatos mais espertos não engulam os tucanos.
E, mais importante, cuidar para que sejam instaladas imensas ratoeiras na entrada dos cofres de Brasília. Seu maior desafio será o de zelar pela integridade do queijo.

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