São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 1994
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Pinguim financia a Batcaverna

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Nos últimos anos, o PT e as empreiteiras transformaram-se em instituições incompatíveis. Tão inconciliáveis quanto Batman e Pinguim.
A nação se habituou a acompanhar a luta do "bem" petista contra o "mal" empreiteiro. No Brasil das CPIs, solitários guerrilheiros do petismo enfrentaram, heróicos, a máfia do concreto. Era uma luta de destemidos Davis contra uma legião de perniciosos Golias.
Segundo o manual do PT, boa parte das fortunas dos empreiteiros foi obtida de forma espúria, em relações promíscuas com o Estado.
Reza ainda o manual petista que a proximidade entre empreiteiros e políticos é prenúncio de delinquência.
Financiam-se campanhas eleitorais, em busca de acesso facilitado aos cofres públicos. A lógica, esculpida durante o Collorgate, se solidificou com o escândalo do Orçamento.
Agora, o PT propõe que se apague toda a escrita; que se dê o dito por não dito. Ao receber doação de US$ 200 mil da Norberto Odebrecht, para cobrir gastos de sua vitoriosa campanha ao governo de Brasília, o PT derrubou uma muralha que levou anos para erigir.
Abriu-se uma fenda no escudo ético que separava o petismo da corruptora sedução dos tubarões da construção civil.
Ressaltem-se dois pontos: 1) a Odebrecht integra o consórcio de empresas contratadas para construir o metrô de Brasília; 2) a doação foi feita na véspera do segundo turno, quando já se vislumbrava a vitória de Cristovam Buarque.
Um detalhe adiciona tempero ao caso da perda de virgindade do PT. Os partidários de Cristovam murmuravam pelos cantos que o adversário Valmir Campelo tinha a campanha financiada pelas empreiteiras do metrô.
Fosse Valmir o vitorioso, os petistas estariam pedindo a abertura de uma CPI na Câmara Distrital do DF, para apurar suas ligações escusas com o empresariado.
O estabelecimento de relações entre o PT e a Odebrecht tem sabor de revolução. É como se o homem morcego, reconciliado com seu maior rival, passasse a custear despesas da Batcaverna com dinheiro sujo doado por Pinguim.

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