São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Argentina pode deter brasileiro por 90 dias

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Justiça Federal argentina pode manter o paulista Wilson Roberto dos Santos detido por mais 90 dias, até chegar a uma conclusão sobre os depoimentos contraditórios do brasileiro relacionados com o atentado à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).
O juiz Claudio Bonadio, do 11º Juizado Federal, disse ontem ao cônsul-adjunto do Brasil em Buenos Aires, Luiz Francisco Braconnot, que não se sente seguro para soltar Santos.
Braconnot estava acompanhado do oficial de chancelaria Oswaldo Leite Carneiro, por solicitação do juiz. Carneiro teve vários contatos com Santos. Bonadio quis saber se o paulista lhe havia dito por que tinha medo e quem o ameaçaria.
Santos se mostrou "aterrorizado", de acordo com Carneiro, mas recusou-se a dar detalhes.
Bonadio diz não ter indicações adequadas para julgar se Santos cometeu falso testemunho no primeiro ou segundo depoimento.
No primeiro (12 de novembro), ele afirmou que sabia com antecedência da explosão da Amia, em 18 de julho, provocando a morte de 96 pessoas. No segundo, em 19 de novembro, Santos negou tudo.
Ele está detido na penitenciária Vila Devoto. O assessor de empresa do Serviço Penitenciário Federal, Alejandro Yapur, disse à Folha que Santos encontra-se numa cela semelhante a um alojamento militar, com camas-beliches, junto com mais 60 detentos.
A Justiça Federal argentina indicou a defensora pública Perla Martinez para acompanhar Santos.
Em São Paulo, a irmã de Santos, Vera Lúcia Martins, procurou ontem a Folha. Disse que soube pelos jornais que o irmão estava detido em Buenos Aires. A família está preocupada e mãe adoeceu.
Segundo a Folha apurou, integrantes das principais entidades judaicas argentinas comentam reservadamente que as investigações estariam emperradas por causa da existência de grupos anti-semitas na Secretaria de Inteligência do Estado (serviço secreto argentino).
O cônsul-adjunto brasileiro disse ter enviado fax ontem à revista Isto É solicitando informações a respeito do não-pagamento de despesas com Hotel Embajador, em Buenos Aires.
Santos viajou à Argentina a convite da revista, que tinha publicado reportagem na qual ele afirmava saber com antecedência de um atentado anti-semita no país.
Segundo Santos, a revista teria lhe assegurado que pagaria todas as despesas da viagem.

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