São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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Interesses transparentes

Esquemas de corrupção envolvendo empreiteiras e políticos ganharam evidência na CPI do escândalo no Orçamento. Isso não significa, entretanto, que o financiamento legalizado de campanhas por grandes empresas seja necessariamente ilegítimo ou imoral.
Como as pressões da sociedade civil sobre o governo fazem parte da democracia e é impossível isolar completamente os partidos de influências privadas, a moralização dessa relação passa pela transparência. Tornar obrigatória a divulgação das contribuições durante as campanhas informaria melhor o eleitor e permitiria ainda a fiscalização dos que foram eleitos.
As contribuições ao PT ganharam maior visibilidade pela preocupação ética que o partido sempre se atribuiu. Mesmo que tenham sido legais e não haja suspeita de favorecimento –os governadores eleitos nem mesmo assumiram–, ficou a impressão de mácula. Absurdo, porém, seria se somente o PT precisasse ser honesto. A exigência de ética aplica-se, evidentemente, a todas as agremiações políticas.
A crítica do PT às contribuições de empreiteiras perdeu algo de sua autoridade. Mas não se pode dar um atestado prévio e irrestrito de idoneidade a políticos e seus financiadores. Os descalabros que vieram à tona nos escândalos de corrupção dos últimos anos mostram que ainda há muito por fazer na moralização da administração pública. A desconfiança que envolve o relacionamento entre políticos e empreiteiras encontra sólidos fundamentos no passado recente.
Tanto na eleição presidencial como nas estaduais, empreiteiras e grandes empresas contribuíram simultaneamente para as campanhas de vários partidos. Não se trata, portanto, de afinidade ideológica.
O interesse de empresas em ter um bom relacionamento com os futuros governantes é natural. O financiamento pode visar a políticas gerais legítimas e não a um favorecimento particular antiético. O que de fato ocorrerá, entretanto, só poderá ser fiscalizado se forem amplamente conhecidos os financiadores de cada candidato.

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