São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
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O dragão não morreu

A indústria paulista fechará o ano com produção 6,5% superior à de 1993, prevê a Fiesp. É um ritmo saudável: suficiente para manter expectativas otimistas, mas não excessivo a ponto de pressionar significativamente a inflação.
As empresas trabalham, em média, com 80% de sua capacidade produtiva. Chegaram ao limite máximo apenas em algumas áreas. A indústria de bens de capital, cujo desempenho serve de indicador de novos investimentos, recuperou-se vigorosamente este ano.
Mas não há apenas motivos para comemorar. O nível de emprego não acompanhou esse crescimento –caiu 2,5% até outubro– e a estabilização da moeda ainda não está consolidada. Os remanescentes mecanismos de indexação e as dúvidas quanto ao empenho do governo em fazer a reforma do Estado com a rapidez e a amplitude necessárias colocam o combate à inflação num momento delicado. O dragão está enfraquecido, mas não morreu.
Apesar do bom desempenho atual, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo aponta o dólar excessivamente barato e a liberalização das importações como focos de preocupação. Reclama que os importados podem ocupar crescentes parcelas do mercado nacional.
A própria indústria, entretanto, preserva a cultura inflacionária que gera esse desequilíbrio. A elevação sistemática de preços induz o governo a manter altas as taxas de juros. Estas atraem divisas, depreciando o valor do dólar.
Assim, ao aumentar seus preços, os setores produtivos nacionais indiretamente acabam por ajudar a baratear o preço dos produtos importados no Brasil. Seguindo nessa rota, a concorrência externa se fará sentir cada vez mais.
Além da inconclusa agenda de reformas e de desindexação que cabe ao governo enfrentar, persistem ainda os obstáculos deixados pela cultura inflacionária. A prática de repassar automaticamente os índices de inflação aos preços ameaça não só a estabilidade da moeda como também a competitividade dos produtos nacionais.

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