São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Cenas de fisiologia explícita

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O sociólogo Fernando Henrique Cardoso decretou o fim do fisiologia, em inúmeras entrevistas concedidas enquanto candidato e mesmo depois de eleito. O episódio Humberto Lucena desmente, rotundamente, a avaliação do sociólogo.
Não li, em todas as declarações em defesa de Lucena, o único argumento aceitável no caso, ou seja, o de que ele é inocente porque não mandou fazer na Gráfica do Senado os calendários que deram motivo à sua cassação.
Ao contrário. O argumento central utilizado pelo presidente da comissão formada por seus pares para defendê-lo, Bonifácio Andrada (PPR-MG), é uma confissão de culpa. Diz Andrada que, entre as prerrogativas dos senadores, figura a de mandar imprimir material na Gráfica do Senado. Bingo. É a confissão pública de que um punhado de senadores aceita que se utilizem equipamentos e recursos públicos em benefício de um particular (candidato é um cidadão comum).
É também a confissão pública de que um punhado de senadores joga no lixo o artigo 5º da Constituição, aquele que diz que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".
Se um senador tem a prerrogativa de usar recursos públicos para sua propaganda eleitoral deixa de ser igual a outros candidatos que, por não serem senadores, não dispõem de idêntica regalia.
O festival de corporativismo patrocinado anteontem pelo Senado demonstra também que os senadores só são capazes de agir em defesa própria.
Afinal, não ocorreu a senador algum revoltar-se contra o Judiciário ou contra o Executivo quando foram baixadas normas de discutível validade jurídica, como o confisco da poupança, no bojo do Plano Collor.
Ao contrário, o Legislativo sancionou a medida, assim como havia sancionado antes todos os pacotes econômicos, muitos dos quais continham determinações que acabaram sendo contestadas pela Justiça.
E depois essa turma ainda se queixa do desprezo da opinião pública. Nada mais justo.

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