São Paulo, sábado, 3 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A serviço da família

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Neste "Ano da Família", não basta afirmar a sua importância para a realização da pessoa e a consolidação do tecido social. Nem é suficiente constatar, com tristeza, a diminuição de casamentos e o aumento das separações e divórcios. É preciso agir em favor da família, promovendo o amor entre as pessoas, a firmeza do vínculo conjugal e os auxílios que ajudam ao mútuo entendimento e ao afeto.
O cerne da questão está, sem dúvida, na educação para o amor sincero, leal, fiel, capaz de doação e até de sacrifícios. São esses valores que encontramos inscritos pelo Criador no próprio coração humano e que Jesus Cristo ensinou, à luz do mandamento do amor, e elevou à dignidade de sacramento.
Há lares que não conseguem vencer as dificuldades e acabam por desagregar-se. Entre os fatores que minam a estabilidade da família está a dependência do álcool. A bebida excessiva conduz à perda de controle, mudanças de conduta, a formas oscilantes de agressividade, desvario e de apatia. Nesta situação, a pessoa, sem domínio de si, pode ofender os familiares e prejudicar não só a saúde, mas a própria imagem e aceitação pelos outros. Quantos lares –ricos e pobres– já foram destruídos pela bebida!
Por que esse descontrole que leva a pessoa a beber sempre mais a ponto de tornar-se dependente? Em muitos casos trata-se da dificuldade em enfrentar os desafios, acarretando a frustração que gera um processo de fuga e alienação pela bebida. A isso temos que somar a influência negativa de companheiros, a força do hábito e a falta de apoio e compreensão na hora certa.
A vida conjugal e familiar fica, então, alterada. Torna-se difícil o diálogo. Perde-se, aos poucos, o respeito e vai crescendo o desentendimento, seguido de desânimo e da procura sempre maior da bebida. Neste momento, é preciso auxílio dos amigos para ajudar, logo, a quem vai se tornando dependente do álcool e salvar sua família.
Além do esforço dos próprios familiares, temos que lembrar a atuação do movimento dos "A.A.", Alcoólicos Anônimos, presentes em tantas cidades e bairros. É um belo testemunho de solidariedade por parte daqueles que já se recuperaram e que se organizam para, todas as noites, acolher e orientar os que desejam se libertar da bebida. Os resultados são surpreendentes, devolvendo a muitos a vida sóbria, a volta ao trabalho e ao aconchego do lar.
Nesta semana visitei, perto de Itabirito (MG), uma obra obra de grande mérito. Num sítio afastado, às margens do Rio das Velhas, existe um centro de recuperação para mais de 50 dependentes alcoólicos. A iniciativa partiu de irmã Olga, religiosa do Bom Pastor, que trabalhou antes a serviço dos pobres nas docas de Santos, onde percebeu, há 20 anos, a necessidade de ajudar gratuitamente e por amor de Deus as vítimas do álcool.
No sítio "Nossa Senhora do Silêncio" tudo é simples e pobre. Há clima de amizade e apoio fraterno, oração e trabalho rural. Irmã Olga é auxiliada por um grupo de voluntários com vários anos de dedicação. Foram abertas duas outras casas, em Cubatão e Divinópolis.
Notei no rosto daqueles homens que vão se recuperando a alegria de se libertarem da bebida e a esperança de voltarem a seus lares. Que o exemplo de irmã Olga e dos "A.A." de todo Brasil suscite, principalmente entre os jovens, gestos concretos de generosidade em favor da família.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

Texto Anterior: Coincidências elementares
Próximo Texto: ISTO É ITAMAR; HABITAT; CONQUISTA CIVIL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.