São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Prioridade para Malan é a busca do ajuste fiscal

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma verdadeira obsessão pela lógica e pelo argumento cuidadosamente dividido e demonstrado - eis a característica dominante de Pedro Malan no exercício da política econômica.
Não raro, abusa da paciência do seus interlocutores, inclusive jornalistas, para expor ponderadamente sua opinião, indo lá atrás buscar as premissas. Quer ter a certeza de ser bem compreendido.
Na elaboração do Plano Real, os outros três membros do núcleo da equipe econômica, Edmar Bacha, Pérsio Arida e Gustavo Franco, foram mais criativos nas idéias.
Malan foi mais organizador e mediador. Trabalhava cuidadosamente as posições divergentes, em busca do consenso que permitisse dar unidade à ação.
Nesse sentido, o presidente do BC expressa a opinião comum aos membros da equipe. Neste momento, essa opinião diz que a sequência do Plano Real, no início do governo FHC, está no encaminhamento de um ajuste duradouro do setor público, privatizações, desindexação e início das reformas modernizadoras da economia.
Trata-se de dar as regras do equilíbrio permanente do Estado (incluindo governos estaduais e prefeituras) e reduzir o "custo Brasil", isto é, eliminar os obstáculos de todo tipo que encarecem o investimento privado no país.
Malan, sempre representando a equipe, defende a manutenção ao estímulo às importações e a progressiva liberalização do câmbio.
Já no que se refere à dolarização ampla, entendida como a fixação de uma banda mais estreita de variação das cotações do dólar, com livre conversibilidade da moeda americana, Malan reflete o debate ainda empatado dentro da equipe.
Arida tende a preferir essa dolarização. Franco é contra. Malan não se decidiu. Em conversa recente com a Folha, Malan observou que se o ajuste fiscal for politicamente viável, então não precisa de dolarização.
Mas se o ajuste for inviável, a dolarização pode ser a última arma para a defesa da estabilização. A aposta do momento, insiste Malan, é na busca do ajuste fiscal. Nisto, o futuro ministro da Fazenda está estreitamente alinhado com o presidente eleito, que considera ter força política para aprovar as bases do ajuste fiscal no Congresso.
A função de Malan, como ministro, será justamente a de viabilizar politicamente o ajuste e as reformas.

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