São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Fishlow defende aliança de tucanos e pefelistas

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O economista norte-americano Albert Fishlow, convidado do seminário internacional que reuniu FHC e mais de 60 intelectuais, chegou a pensar em 1991 que havia perdido tempo estudando o Brasil, seu objeto de reflexão por mais de 25 anos.
Hoje, Fishlow parece compartilhar o otimismo dos tucanos. Segundo ele, o fundamental já foi feito com o reconhecimento efetivo de que a inflação precisava ser combatida.
Agora, diz, será preciso operar a difícil conciliação entre retomada do desenvolvimento e distribuição de renda. Para Fishlow, a aliança PSDB-PFL é um bom caminho para realizar a tarefa.
Folha - Em debate com o então senador Fernando Henrique Cardoso, em 1991, o sr. disse que havia perdido tempo estudando o Brasil e chegou a sugerir que este era um país inviável. Continua pensando a mesma coisa?
Albert Fishlow - Não. Acho que as coisas melhoraram. O fundamental é o reconhecimento de que é preciso baixar a inflação, que é uma condição indispensável para qualquer crescimento futuro.
Em segundo lugar, há hoje no Brasil a idéia de que democracia é algo sólido, que deve durar e ser preservado. Além disso, já perceberam por aqui que não se avança na solução dos problemas da miséria sem sanear as finanças públicas, equilibrar as contas do Estado e liberar o poder público daquilo em que ele não deve se meter para que ele possa cuidar de forma adequada do que interessa, que são os grandes problemas sociais.
Folha - Muitos adversários acusaram o presidente eleito de ter chegado ao Planalto com uma plataforma neoliberal, apesar de ele ter insistido nas questões sociais. O sr. identifica pontos de contato entre as idéias de FHC e o chamado consenso de Washington? Como o sr. vê o consenso de Washington?
Fishlow - Eu já critiquei muitas vezes o consenso de Washington, porque achei que na sua formulação e compreensão das coisas só era apresentada parte do problema.
O que FHC defendeu foi diferente, até onde eu sei. Ele quer um Estado menor, em que as receitas são iguais às despesas, em que se pode maximizar o investimento público exatamente para melhorar a distribuição da renda. Essa combinação entre adequação econômica e perspectiva social é básica e coloca o Fernando Henrique para além do consenso de Washington.
Folha - Mas isso é factível? Qual o preço social do ajuste?
Fishlow - É preciso muito esforço. Combinar um crescimento alto com o controle do déficit e a distribuição de renda é uma tarefa das mais difíceis. Mas não acredito que isso seja impossível.
Folha - A aliança feita por FHC com o PFL indica uma contradição que seu governo terá que resolver? Como o sr. vê a união entre os sociais-democratas e os liberais no Brasil?
Fishlow - Posso até desagradar muita gente, mas acho importante a aliança porque expressa a necessidade de um governo que ligue os dois lados a que aludi. Além disso, só com maioria no Congresso é possível desenvolver uma estratégia coerente e que funcione.
Folha - A questão do desemprego estrutural foi abordada no seminário como um dos grandes gargalos ou desafios que a chamada terceira revolução tecnológica coloca para o mundo daqui por diante. Como o sr. vê o problema?
Fishlow - Não sou fatalista. Há o caso do Chile, por exemplo, que está conseguindo equacionar com êxito um investimento rápido e uma melhora da distribuição da renda. Eu não vejo uma ligação fundamental entre a transformação tecnológica e o desemprego.
(Gustavo Patu e Fernando Barros e Silva)

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