São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Cargo e salário no exterior são trocados por BC

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A vida pessoal de Pedro Malan começou a mudar, para pior, na noite de 13 de agosto de 1993, numa reunião em Brasília, no apartamento do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.
Malan entrou nessa reunião como diretor-executivo do Banco Mundial, alto cargo na burocracia internacional, salário de US$ 10 mil e residência em Washington.
Saiu como presidente do Banco Central do Brasil, menos da metade do salário, moradia em Brasília e tendo como serviço cuidar de uma inflação de 40% ao mês.
A mudança foi tanto mais drástica na medida que Malan estava completando dez anos de vida nos Estados Unidos.
Durante esse período morou entre Nova York e Washington, ocupando postos na ONU (Organização das Nações Unidas) , no Banco Interamericano de Desenvolvimento e no Banco Mundial.
Sua família, a mulher Catarina (segundo casamento) e a filha Cecília, estava com a vida assentada nos Estados Unidos.
Catarina, dona de escola, estava grávida do segundo filho. Cecília nasceu nos EUA e sempre estudou lá.
Considerando que cargos públicos no Brasil são sempre precários, mulher e filha de Malan continuaram em Washington.
Em setembro do ano passado, nasceu o segundo filho do casal, Pedro, que hoje mal reconhece o pai.
Mas, o que se há de fazer? Funcionários públicos não podem esperar passar toda a vida nos melhores postos no exterior. Há sempre o momento de ir para o sacrifício.
Além disso, não se pode dizer que a presidência do BC seja o pior emprego do mundo ou apenas um fardo para qualquer brasileiro.
É poder, prestígio e uma oportunidade rara para um economista que sempre se dedicou às políticas públicas, como Malan. Mesmo que o sujeito seja totalmente despreendido, é um posto atraente.
Malan certamente compreende o cargo assim, como puderam perceber os que trabalharam junto. Funcionário de avançado espírito público, assumiu a função com o empenho de um verdadeiro "ferrabrás".
Carga de serviço
Nesses 15 meses, trabalhou pesado todos os dias, em jornadas de até 14 horas. Os órgãos federais brasileiros estão bastante deteriorados, faltam quadros médios, de modo que os dirigentes têm uma enorme carga de serviço.
O presidente do Banco Central do Brasil, por exemplo, trabalha muito mais, em horas nos gabinetes, do que o presidente do Banco Central da Alemanha.
Acrescente-se que Pedro Malan teve participação decisiva na elaboração e aplicação do Plano Real e se pode concluir que, a despeito do poder e do prestígio do cargo de presidente do BC, não foi propriamente uma vida sossegada. (CAS)

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