São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Cúpulas marcam avanço dos blocos econômicos

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na próxima sexta-feira, dia 9, coincidem as reuniões de cúpula da Europa e das Américas, que, ao menos na caudalosa retórica diplomática, servirão como ensaio do começo do fim dos Estados-nações e sua progressiva substituição pelos grandes blocos econômico-comerciais.
O Brasil participa diretamente de uma delas, a chamada Cúpula das Américas, que reúne em Miami os chefes de Estado ou governo dos 34 países da região, excluída unicamente Cuba.
Participa também, indiretamente, da cúpula européia, marcada para Essen (Alemanha), na qual os chefes de governo dos 12 países da UE (União Européia) darão o aval político para as negociações entre a UE e o Mercosul para a constituição de uma zona de livre comércio entre os dois blocos.
Dificuldades
Mas a previsível louvação do livre comércio, a figurar nos documentos das duas cúpulas, mal disfarça as enormes dificuldades que, de ambos os lados do Atlântico, se levantam no caminho de acordos concretos.
Começa pela resistência dos governos norte-americano e brasileiro à proposta dos argentinos para que a Cúpula das Américas marcasse, desde já, uma data (o ano 2000) para a assinatura de um acordo criando a chamada Afta (iniciais em inglês de Área Americana de Livre Comércio).
Seria a versão ampliada do Nafta (ver glossário), para englobar todos os países das Américas.
"É irrealista fixar uma data", fulminou a delegação brasileira durante as negociações prévias.
Barreiras
Em tese, todos estão de acordo em que seria desejável criar-se a Afta. Mas todos sabem, também, que o governo norte-americano chega à cúpula de Miami em uma situação politicamente muito complicada.
A derrota eleitoral do presidente Bill Clinton, nas eleições congressuais e estaduais de novembro, atou suas mãos para negociar acordos de fato consistentes.
Quando o novo Congresso norte-americano assumir, em janeiro, é provável que o discurso do livre comércio encontre barreiras em áreas insuspeitadas.
O Partido Republicano, vitorioso e classicamente adepto do livre comércio, já não é mais o mesmo.
"Em um clima político populista, livre comércio é muitas vezes temido como fonte de insegurança econômica", escreve o número desta semana da revista "Newsweek".
Sobre os republicanos, especificamente, a revista comenta: "Os republicanos de hoje não têm o mesmo reflexo condicionado em favor do livre comércio como aqueles da geração do pós-guerra".
Empregos
É natural que assim seja. O grande problema da economia norte-americana, como de resto da mundial, é a criação de empregos e o Nafta, que poderia servir de propaganda para a Afta, ajudou pouco a resolvê-lo.
A Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) marcou o ano 2020 como a data para criar uma zona de livre comércio entre seus 18 membros, que incluem as duas maiores economias do planeta (EUA e Japão).
Logo, do ponto de vista retórico, a Cúpula das Américas promete mais consistência se essa avaliação se revelar correta.
Mas é bom deixar claro que o documento de Miami é apenas político. Expõe as intenções dos governantes reunidos, mas não cria obrigação jurídica alguma.

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