São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Entrevista de Elma será usada contra PC

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma fita de vídeo com declarações da mulher de PC, Elma Farias, morta em agosto, é utilizada por parte da acusação (Ministério Público) para tentar condenar o empresário alagoano.
Paulo César Farias, o ex-presidente Fernando Collor e mais sete dos seus ex-assessores serão julgados, por vários crimes, a partir de quarta-feira pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O contéudo da fita: uma entrevista na qual a mulher de PC, às lágrimas, acusa o ex-presidente Collor de ser o "chefe maior" do seu marido.
Na ocasião da entrevista, no dia 1º de dezembro do ano passado, Elma estava nervosa com a prisão de PC, em Bancoc (Tailândia).
O fato de não poder visitar o marido, preso nos porões do departamento de imigração tailandês, reforçou o nervosismo de Elma.
A sua irritação aumentou quando, guiada por repórteres de emissoras de TV, recorreu à embaixada brasileira em Bancoc e mais uma vez foi barrada na tentativa de se eencontrar com PC.
Emocionada, Elma disse o seguinte sobre o marido, em entrevista que foi mostrada por redes de televisão no Brasil:
"O que o Paulo César fez foi conseguir fundos de empresários para a campanha de Collor. Por que só o Paulo César? Ele não agiu sozinho. Tem alguém que mandou e o chefe maior foi quem mandou."
Degravada pela Polícia Federal (PF), a fita foi incorporada à peça da denúncia que vai tentar condenar PC por corrupção passiva.
O ex-tesoureiro da campanha de Collor vê na utilização da fita da sua mulher morta mais um capítulo "trágico" no drama que tem envolvido todos os personagens do Collorgate.
PC disse ainda, na sua quinta entrevista à Folha depois que foi preso no Batalhão de Choque da Polícia Militar, em Brasília, que Elma se referia somente ao aspecto "eleitoral" que o ligava a Collor.
"Fui um tesoureiro de campanha em 1989 (campanha de Collor) e 90 (eleições estaduais dos aliados do ex-presidente) e nesse sentido ele (Collor) era o chefe", conta."Foi dentro desse espírito que Elma falou".
PC faz questão de manter até hoje total fidelidade ao ex-presidente. O mesmo não aconteceu, na avaliação da família Farias, por parte de Collor, que teria procurado se desvincular do amigo.
Qualquer gesto do ex-presidente, no entanto, é visto como prova de amizade por PC. Nesse período em que se encontra na prisão, recebeu de Collor um presente: o livro de auto-ajuda chamado "Alegria e Triunfo".
No episódio da morte de Elma, vítima de infarto, o ex-presidente não compareceu ao velório, embora more vizinho à casa de PC, no Lago Norte, em Brasília.
Collor apenas telefonou e o seu ex-tesoureiro de campanha viu nesse gesto a cota de solidariedade necessária para a ocasião.
Os advogados do ex-tesoureiro de campanha, Nabor Bulhões e D'Alembert Jaccoud, avaliam que ao ressuscitar as declarações de Elma, os procuradores do Ministério Público demonstram um fato: "Absoluta carência de provas para condenar PC".
Segundo os advogados, nem a fita nem qualquer outra peça da acusação conseguem firmar o vínculo de corrupção com o qual o Ministério Público pretende condenar o ex-tesoureiro e o ex-presidente.

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